O Retrato de Dorian Gray - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 277 / 335

De súbito estremeceu. Os olhos chamejaram-lhe duma maneira estranha e mordeu nervosamente o lábio inferior. Entre duas janelas achava-se um grande armário florentino, feito de ébano com embutidos a marfim e lápis-Lazúli. Não despregava dele os olhos, como se esse móvel o fascinasse ou o assustasse, como se contivesse alguma coisa que ele avidamente desejava e que, todavia, quase lhe repugnava. Acelerou-se-lhe a respiração. Arquejante, sentia-se empolgado por uma sofreguidão indomável. Acendeu um cigarro e logo o atirou fora. Cerrou as pálpebras com tal desespero que as pestanas quase lhe tocaram as faces... Os olhos, porém, não se desprendiam do móvel. Por fim, levantou-se do sofá em que se havia deitado, foi direito ao armário, abriu-o e tocou em qualquer mola oculta. Abriu-se logo uma gaveta triangular. Os dedos dirigiram-se-lhe instintivamente para ela e tiraram de dentro alguma coisa. Era uma caixinha chinesa de laca preta e doirada, complicadamente trabalhada, com ondas lindamente desenhadas nos lados e cordões de seda com bolinhas de cristal e fios de metal. Abriu-a. Dentro encontrava-se uma pasta verde, de brilho de cera e cheiro curiosamente pesado e persistente.





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