Lord Henry encolheu os ombros.
- Meu caro, como se eu me importasse! Vamos lá acima, à sala de visitas. Obrigado, Sr. Clapman, não quero Xerez. Aconteceu-lhe alguma coisa, Dorian. Diga-me o que foi. Você não é o Dorian, hoje.
- Não faça caso, Henry. Estou irritável e com os nervos destrambelhados. Irei visitá-lo amanhã ou depois. Apresente as minhas desculpas a Lady Narborough. Não vou lá acima. Vou para casa. Preciso de ir para casa.
- Muito bem, Dorian. Espero vê-lo amanhã à hora do chá. A duquesa vai também.
- Farei por lá ir, Henry - disse Dorian, retirando-se. Ao dirigir-se para casa, tinha a consciência de que a sensação de terror que julgara haver aniquilado voltara a atormentá-lo. A pergunta casual de Lord Henry enervara-o por um momento, e precisava de toda a serenidade. Era necessário destruir todas as coisas perigosas. Vacilou. Horrorizava-o só a ideia de lhes tocar.
Contudo, urgia fazê-lo. Por isso, mal entrou em casa, fechou-se à chave na biblioteca e abriu o esconderijo onde metera o casaco e a mala de Basil Hallward. O fogão ardia com uma grande chama. Deitou-lhe outra acha. O coiro e o pano, ardendo, exalavam um cheiro horrível. Ao cabo de três quartos de hora tudo estava reduzido a cinzas. Sentia-se, afinal, fraco e doente, e, acendendo umas pastilhas de Argel numa braseira de cobre, banhou as mãos e a testa com uma loção fria, perfumada a almíscar.