O Retrato de Dorian Gray - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 311 / 335

Dorian ergueu-se de repelão. Perpassou-lhe pela mente, como um relâmpago, uma esperança terrível. Aferrou-se a ela loucamente.

- Onde está o cadáver? - perguntou. - Depressa!

Preciso de o ver imediatamente.

- Está numa cavalariça vazia, no casal. Ninguém quer mortos em casa. Dizem que trazem desgraça...

- No casal! Vá para lá imediatamente e espere por mim. Diga a um dos criados que me traga já o cavalo. Não! Deixe! Vou eu mesmo às cavalariças. Poupa-se tempo.

Em menos de um quarto de hora descia Dorian Gray a toda a brida a avenida. As árvores pareciam fugir na sua frente como uma procissão espectral, e sombras desordenadas cruzavam-se-lhe no caminho. Uma vez a égua tropeçou num poste e quase o atirou ao chão. Fustigou-a no pescoço com o pingalim. A égua fendeu o ar como uma seta. As pedras saltavam-lhe debaixo dos cascos.

Finalmente chegou ao casal. Dois homens passeavam no pátio. Saltou do selim e atirou as rédeas a um deles. Na cavalariça mais distante bruxuleava uma luz. Alguma coisa parecia dizer-lhe que estava ali o cadáver. Correu para a porta e pôs a mão no ferrolho.

Hesitou um momento, sentindo que se encontrava à beira duma descoberta que salvaria ou estragaria para sempre a sua vida. Decidiu-se, enfim; empurrou a porta e entrou.





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