- Claro que estou - disse ele. - Começa.
- Creio que os chefes e os seus auxiliares, se forem dignos do nome que usam, quererão, estes, fazer o que lhes for ordenado, aqueles, ordenar, conformando-se às leis ou inspirando-se nelas nos casos que abandonarmos à sua prudência.
- É natural.
- Portanto, tu, o seu legislador, do mesmo modo que escolheste os homens, escolherás as mulheres, reunindo tanto quanto possível as naturezas semelhantes. Ora, àquelas e aqueles que tiveres escolhido, tendo domicílio comum, tomando em comum as suas refeições e não possuindo nada de seu, estarão sempre juntos; e, encontrando-se misturados nos exercícios do ginásio e em tudo o que respeita à restante educação, serão levados por uma necessidade natural, creio eu, a formar uniões. Não achas que isto é necessário?
- Não uma necessidade geométrica - respondeu -, mas amorosa, que tem a possibilidade de ser mais forte do que a primeira para convencer e conduzir a massa dos homens.
-Tens razão - retorqui -, mas, Gláucon, formar uniões ao acaso ou cometer faltas do mesmo género seria uma impiedade numa cidade feliz e os chefes não a suportariam.
- Por certo que não seria justo - disse ele.
- É evidente, portanto, que, depois disto, faremos casamentos tão santos quanto estiver no nosso poder; ora, os mais santos serão os mais vantajosos.
- Sem dúvida.
- Mas como serão os mais vantajosos? Diz-mo, Gláucon. Com efeito, vejo na tua casa cães de caça e um grande número de nobres aves. Por Zeus! Prestaste alguma atenção às suas uniões e à maneira como procriam?
- Que queres dizer?