A República - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 146 / 290

A vitória destes é mais bela e a sorte que o Estado lhes assegura mais perfeita; com efeito, a sua vitória é a salvação de toda a cidade e como coroa recebem, eles e os seus filhos, o alimento e tudo o que é necessário à existência; enquanto viverem, a cidade confere-lhes privilégio e, depois da morte, têm uma sepultura digna deles.

- Trata-se - disse ele - de belíssimas recompensas.

- Lembras-te de que já não sei quem nos censurou há pouco por desprezarmos a felicidade dos nossos guardas, os quais, podendo ter todos os bens dos outros cidadãos, não possuíam nada de seu? Respondem creio eu, que voltaríamos a examinar essa censura, se a ocasião se prol: clonasse; que, de momento, nos propúnhamos formar guardas atento tornar a cidade tão feliz quanto possível e não construir a felicidade

Apenas uma das classes que a compõem.

- Lembro-me disso.

- Agora, que a vida dos auxiliares nos parece mais bela e melhor do que a dos vencedores olímpicos, poderemos considerá-la, sob qualquer aspecto, comparável à vida dos sapateiros, dos outros artesãos ou dos agricultores?

- Não me parece.

- Aliás, vem a propósito repetir aqui o que então dizia: se o guarda procurar uma felicidade que faça dele algo diferente de um guarda; se condição modesta mas estável, e que é, digo nós, a melhor, não bastar; se uma opinião louca e pueril o levar, porque dispõe do poder, a cerar-se de tudo na cidade, saberá quanta verdadeira sabedoria demonstrou Hesíodo ao dizer que a metade é mais que o todo.

- Se quiser acreditar em mim, manter-se-á na sua condição.

- Aprovas então - perguntei - que haja comunidade entre mulheres e homens, tal como a expusemos, no que respeita à educação, aos filhos – e à protecção dos outros cidadãos? Admites que as mulheres, quer fiquem na cidade ou partam para a guerra, devem entrar de guarda com os homens, - com eles, como fazem as fêmeas dos cães, e associar-se tão completamente quanto possível a todos os seus trabalhos; que assim agirão de forma excelente e não contrária à natureza das relações entre fêmea e macho, na medida em que são feitos para viverem em comum?

- Admito.

- Apenas falta examinar se é possível estabelecer na raça humana a comunidade que existe nas outras raças e como é isso possível.

- Antecipaste-te - disse ele. - Ia falar-te disso.

- Quanto à guerra, é assaz evidente, creio eu, como a farão.

- Como?





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