A República - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 25 / 290

— Assim me parece — disse ele.

— Mas, Trasímaco, as artes governam e dominam o indivíduo sobre o qual se exercem.

só a muito custo concordou comigo neste ponto.

— Portanto, nenhuma ciência tem em vista nem prescreve a vantagem do mais forte, mas a do mais fraco, do súbdito governado por ela.

Também acabou por concordar comigo neste ponto, mas depois de ter tentado contestá-lo; quando cedeu, disse-lhe:

— Assim, o médico, na medida em que é médico, não tem em vista nem prescreve a sua própria vantagem, mas a do doente? Com efeito, reconhecemos que o médico, no sentido exacto da palavra, governa o corpo e não é homem de negócios. Não reconhecemos?

Concordou que sim.

— E o piloto, no sentido exacto, governa os marinheiros, mas não é marinheiro?

— Assim o reconhecemos.

— Por conseguinte, um tal piloto, um tal chefe, não terá em vista e não prescreverá a sua própria vantagem, mas a do marinheiro, do individuo que ele governa.

Concordou a custo.

— Deste modo, Trasímaco — prossegui —, nenhum chefe, seja qual for a natureza da sua autoridade, na medida em que é chefe, não se propõe e não ordena a sua própria vantagem, mas a do individuo que governa e para quem exerce a sua arte; é com vista ao que é vantajoso e conveniente para esse individuo que diz tudo o que diz e faz tudo o que faz.





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