A República - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 44 / 290

— Assim, o justo é feliz e o injusto infeliz.

— Seja! — concedeu.

— E não aproveita ser infeliz, mas ser feliz.

— Sem dúvida.

— Consequentemente, divino Trasímaco, nunca a injustiça é mais proveitosa do que a justiça.

— Que seja esse, Sócrates — disse ele —, o teu festim das Bendidias! — Tive-o graças a ti, Trasímaco, visto que abrandaste e derivaste de ser rude para comigo. Contudo, não me regalei o suficiente: por culpa minha, e não tua. Parece-me que fiz como os glutões, que se lançam avidamente sobre o prato que lhes apresentam, antes de terem apreciado suficientemente o anterior; de igual modo, antes de termos encontrado o que procurávamos inicialmente, a natureza da justiça, lancei-me numa digressão para analisar se ela é vício e ignorância ou sabedoria e virtude; tendo surgido em seguida outra hipótese, a de saber que a injustiça é mais vantajosa do que a justiça, não pude evitar de ir de uma para a outra, de modo que o resultado da nossa conversa é que não sei nada; porquanto, não sabendo o que é a justiça, ainda menos saberei se é virtude ou não e se aquele que a possui é feliz ou infeliz.





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