— Nesse caso, analisa agora isto: não tem a alma uma função que nada, a não ser ela, poderia desempenhar, como vigiar, comandar, deliberar e o resto? Pode-se atribuir estas funções a outra coisa que não a alma e não temos o direito de dizer que elas lhe são próprias?
— Não se pode atribuí-las a nenhuma outra coisa.
— E a vida? Não diremos que é uma função da alma?
— Certamente — respondeu. — Portanto, afirmaremos que a alma também tem a sua virtude própria?
— Afirmá-lo-emos.
— Ora, Trasímaco, a alma desempenhará bem essas funções se for privada da sua virtude própria? Ou será impossível?
— Será impossível.
— Por conseguinte, é forçoso que uma alma má comande e vigie mal e que a alma boa faça bem tudo isso.
— É forçoso.
— Ora, não concordamos que a justiça é uma virtude e a injustiça um vício da alma?
— Concordámos, com efeito.
— Portanto, a alma justa e o homem justo viverão bem e o injusto mal? — Assim parece — disse ele —, segundo o teu raciocínio.
— Mas com certeza que aquele que vive bem é feliz e afortunado e o que vive mal o contrário.
— Quem duvida?