Contos de Mistério - Cap. 1: O ANEL DE THOTH Pág. 10 / 167

- Não sinto a mínima vontade de meter-me na sua vida - respondeu o estudante. - A minha presença aqui é puramente acidental e apenas lhe peço uma coisa: abra-me uma porta e deixe-me sair.

Falava ainda com a mesma delicadeza exagerada, porque o outro continuava a mexer na arma picando com a ponta a palma da mão esquerda, como para se certificar da perfectibilidade da lâmina; ao mesmo tempo, o rosto mantinha uma expressão provocante e pouco tranquilizadora.

- Se eu pensasse que... Mas não, no fundo estou errado.

Como se chama?

O inglês declinou o seu nome.

- Vansittart Smith - repetiu o homem misterioso. O senhor é o Vansittart Smith que publicou num jornal de Londres um artigo sobre El-Kab? Li um extracto. Os seus conhecimentos desta matéria são lastimáveis.

- Senhor! - exclamou o egiptólogo.

- Todavia, são superiores aos de muitíssima gente que tem pretensões ainda maiores. A chave da nossa velha vida do Egipto não se encontra nas inscrições ou nos monumentos aos quais atribui um valor exagerado, mas na nossa filosofia hermética e nos nossos conhecimentos místicos dos quais, por assim dizer, nem fala.

- A vossa velha vida, diz o senhor? - repetiu o estudante, com os olhos largamente dilatados; e de súbito: Meus deuses! - exclamou. - Olhe para o rosto da múmia!

O personagem misterioso voltou-se e soltou um longo gemido lastimoso quando o viu.

A acção do ar tinha já destruído a obra-prima do embalsamador.

As carnes achavam-se desprendidas, os olhos entrados nas órbitas haviam-se tornado terrosos, os lábios descaíam, flácidos e descoloridos, deixando a nu grandes dentes amarelecidos; apenas a mancha castanha da testa permanecia o indício revelado r daquele rosto cheio de juventude e de beleza que podiam admirar alguns instantes atrás.





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