Contos de Mistério - Cap. 1: O ANEL DE THOTH Pág. 15 / 167

- Não estamos a desafiar os deuses? Se o grande Osíris tivesse querido prolongar as nossas existências, não teria sido ele próprio a fazê-lo?

«Serenei os seus temores com as palavras mais ternas; contudo, ela continuava a hesitar. Perante esta questão grave, pediu-me uma noite de reflexão; apenas uma noite, mas queria passá-la a orar e a consultar Ísis.

«De coração opresso e cheio de vagos pressentimentos, deixei-a entregue às suas mulheres e no dia seguinte, após o sacrifício matinal, corri para a sua residência. Uma escrava assustada abriu-me a porta. A ama estava muito doente, disse-me ela. Louco de dor, precipitei-me através das galerias até ao quarto da minha querida Arma. Encontrei-a deitada no seu leito, a cabeça apoiada em almofadas, o rosto pálido, o olhar mortiço. Uma mancha vermelha aparecera no meio da testa; era o sinal maldito da peste que eu tão bem conhecia, a marca da morte.

«Porquê voltar a falar desta época abominável? Durante meses inteiros, andei como um louco, roído pela febre, em pleno delírio; e, no entanto, não morri. Nunca um árabe suspirou pela água pura de um poço como eu desejei a morte. Se o veneno ou o aço pudessem cortar o fio da minha existência, como me teria juntado rapidamente à minha bem-amada num mundo melhor! Tentei, mas sem êxito. A maldita substância continuava a proteger-me!

«Uma noite, encontrava-me deitado, cansado, desencorajado, sem poder pregar olho, quando Parmes, o sacerdote de Thoth, me veio visitar. A lanterna que lhe iluminava a cara, revelou-me uma fisionomia radiante de alegria.

«- Por que deixou morrer a jovem? - disse-me. - Por que não a ter vivificado como fez para mim?

«- Meti-me nisso demasiado tarde - respondi. - Mas, já me esquecia, você também a amava; é o meu companheiro de infortúnio.





Os capítulos deste livro