Contos de Mistério - Cap. 1: O ANEL DE THOTH Pág. 16 / 167

Não é horrível pensar que se escoarão séculos antes de a tornarmos a ver? Imbecis! Que loucos somos! Considerarmos a morte nossa inimiga!

«- Fale por si - replicou o sacerdote, rindo sarcasticamente. - Quanto a mim estou ao abrigo desta desgraça.

«- Que quer dizer? - exclamei levantando-me. Decerto, meu amigo, a nossa mágoa agiu deploravelmente sobre os seus espíritos.

«Mas o seu rosto parecia cada vez mais alegre, e agitava-se como um possesso.

«- Sabe onde vou? -- perguntou-me.

«- Não faço a mínima ideia - respondi-lhe.

«- Vou juntar-me a ela. Está deitada no seu túmulo perfumado, debaixo da palmeira dupla, para lá da muralha da cidade.

«- Porque vai fazer isso?

«- Para morrer! - exclamou. - Sim, para morrer! Já nenhum laço terrestre me retém!

«- Mas o elixir que corre nas suas veias?

«- Deixei de temê-lo, arranjei um outro mais forte, que destruiu o seu efeito. Este elixir actua em mim neste momento; dentro de uma hora serei um homem morto. Ter-me-ei juntado a ela e você ficará sozinho para trás.

«Era-me fácil ler-lhe no rosto que dizia a verdade. Melhor ainda do que as palavras, o seu olhar atestava que o poder do meu elixir se achava vencido dentro dele.

«- Não me revelará o seu segredo? - exclamei. "-Nunca!

«- Suplico-lhe pela sabedoria de Thoth, pela majestade de Anúbis!

«- Inútil- respondeu ele friamente. "- Ora bem, tratarei de descobri-lo.

«- Não o encontrará; descobri-o por acaso. Há uma substância que nunca conseguirá arranjar, aquela que se encontra encerrada no anel de Thoth.

«- No anel de Thoth - repeti. - Onde está então o anel de Thoth?

«- Isso também nunca saberá. Se ganhou o seu amor, a vitória deveria ficar-lhe garantida. Deixo-o entregue à sua sórdida existência aqui em baixo.





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