Contos de Mistério - Cap. 1: O ANEL DE THOTH Pág. 21 / 167

Um acaso singular permitiu-lhe ver, esta noite, as feições da mulher que eu amava há quatro mil anos e que não cessei de amar.

«Na caixa estavam numerosos anéis semelhantes àquele que eu procurava e precisei de verificar a platina antes de ter a certeza da minha descoberta. Um relance de olhos ao cristal revelou-me que continha de facto o famoso líquido; poderei, portanto, enfim, desembaraçar-me desta saúde maldita que me fez sofrer mais do que a mais dolorosa das doenças.

«Abri-lhe o meu coração, nada mais tenho a acrescentar. Poderá contar a minha história ou silenciá-la, se preferir; deixo-o escolher livremente.

«Aliás, devo-lhe desculpas, porque ficou a dois dedos da morte esta noite. Estava de cabeça perdida e não admitiria a mínima contradição nos meus projectos. Se o tivesse visto mais cedo, seria um homem morto antes mesmo de ter podido chamar por socorro. Aqui tem a porta, que abre para a Rua de Rivoli. Boa noite.»

O inglês saiu e voltou-se para trás, lançando um derradeiro olhar ao rosto macilento de Sosra, o egípcio; depois a porta fechou-se pesadamente na noite silenciosa.

No dia seguinte ao do seu regresso a Londres, Mr. John Vansittart Smith leu o seguinte artigo no Times, na coluna «França»:

Singular acidente no museu do Louvre.

Ontem de manhã foi feita uma descoberta estranha na principal sala egípcia. Os operários encarregados de varrerem as salas encontraram ontem de manhã o cadáver de um dos guardas estendido no chão; estava fortemente abraçado a uma das múmias.

Enlaçava-a com um tal nervosismo que se tornou muito difícil separá-los. Uma das caixas que continha anéis de grande valor fora descoberta e devastada. As autoridades supõem que o guarda queria levar a múmia a fim de vendê-la a um coleccionador e que terá sido fulminado quando cometia o roubo por uma afecção cardíaca já antiga.





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