Contos de Mistério - Cap. 2: O LOTE N° 249
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- Não pense nisso! Este rapagão foi aro matizado com natrão e cuidadosamente embalsamado ao melhor estilo. Não tratavam assim tão bem os aprendizes de pedreiros. Sal ou alcatrão teria sido mais do que bom. Calcula-se que esta espécie de bagatela custava cerca de setecentas e trinta libras na nossa moeda. O nosso amigo era pelo menos um nobre. Que pensa desta inscrição perto dos seus pés, Smith?

- Já lhe disse que não conhecia nenhuma língua oriental.

- Ah, sim! É o nome do embalsamador. Pelo menos, é o que suponho. Deve ter sido um artesão muito consciencioso. Pergunto-me quantas obras de arte modernas sobreviverão quatro mil anos...

Continuou a falar com desprendimento, mas Abercrombie Smith apercebeu-se de que ainda tiritava de medo. As mãos tinham gestos bruscos, o lábio inferior tremia e os olhos dirigiam-se constantemente para o seu repugnante companheiro. Apesar do pavor, porém, havia triunfo na sua voz e na sua atitude. O olhar brilhava-lhe, os passos eram vivos e desenvoltos quando percorria a sala. Dir-se-ia um homem que passara por uma rude provação, que ainda guardava vestígios disso, mas que tinha alcançado os seus fins.

- Não vai partir? - exclamou quando Smith se levantou do canapé.

Perante a perspectiva da solidão, os seus pavores pareceram invadi-lo novamente e estendeu o braço como para retê-lo.

- Sim, devo retirar-me. O meu trabalho está à espera.

Recuperou muito bem. Penso que, atendendo ao seu estado nervoso, deveria entregar-se a estudos menos mórbidos.

- Oh, geralmente nunca me enervo! E já desenfaixei muitas múmias.

- Da última vez, também desmaiou - observou Monkhouse Lee.

- Olha, pois foi! Ora bem, terei de tomar um tónico para os nervos. Você não parte, Lee?

- Farei como quiser, Ned.





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