Contos de Mistério - Cap. 1: O ANEL DE THOTH Pág. 8 / 167

Estremeceu de alegria e o seu perfil de grande pássaro magro emergia estranhamente atrás da porta; mas quando a derradeira faixa foi retirada daquela cabeça com quatro mil anos, só com grande dificuldade conseguiu reprimir um grito de estupefacção.

Uma cascata de tranças pretas, compridas e sedosas, acabava de cair sobre as mãos do homem acocorado junto da múmia: depois apareceu uma testa baixa e branca, com sobrancelhas finam ente desenhadas.

Enfim, retirada a última faixa, avistou olhos brilhantes, sombreados por longas pestanas pretas, um nariz direito e fino, uma boca de lábios sensuais e um queixo de forma admirável. O rosto inteiro era idealmente belo, e constituía o triunfo mais perfeito do embalsamamento antigo; apenas uma mancha castanha de forma irregular no meio da testa destoava ligeiramente nesta maravilha; os olhos de Vansittart Smith dilataram-se cada vez mais perante aquela estranha contemplação.

Mas o efeito que ela exerceu sobre o egiptólogo nada era comparado com a exaltação do estranho guarda do museu. Este ergueu os braços e proferiu palavras incompreensíveis e, precipitando-se por terra, enlaçou apaixonadamente a múmia, colando os lábios aos seus e cobrindo-lhe de beijos loucos a testa e os olhos.

- Minha menina, minha pobre menina! - murmurou em francês.

A sua voz estava quebrada pela emoção ao passo que os olhos brilhantes permaneciam tão secos como berlindes de aço. Ficou alguns instantes, de rosto contraído, em frente da bela cabeça da múmia. Em breve um sorriso iluminou-lhe a fisionomia, pôs-se a falar uma língua desconhecida e levantou-se lentamente como alguém que acaba de assumir uma decisão brusca.

Havia no meio da sala uma vitrina circular que continha uma esplêndida colecção de anéis egípcios antigos e de pedras preciosas.





Os capítulos deste livro