Contos de Mistério - Cap. 1: O ANEL DE THOTH Pág. 9 / 167

O estranho personagem dirigiu-se para esta vitrina com passos seguros e abriu-a.

Pousou a lanterna numa prateleira e, ao lado dela, um pequeno vaso de barro que tirou da algibeira. Depois pegou num punhado de anéis e com um ar grave, angustiado, pôs-se a besuntá-los um a um com uma substância líquida contida no vaso, mantendo-os expostos à luz enquanto procedia a esta operação. Os primeiros ensaios causaram-lhe certamente uma decepção, porque atirou todos os anéis para o seu escrínio com cólera e apoderou-se de outros. Um destes agradou-lhe evidentemente, porque lhe pegou com entusiasmo e soltou um grito de satisfação quando o comparou com o líquido do vaso. Era um anel muito maciço, incrustado por uma enorme pedra. Mas na sua alegria, fez tão grandes gestos com os braços que derrubou o vaso cujo conteúdo se espalhou até aos pés do estudante. A personagem misteriosa extraiu da algibeira um lenço vermelho e serviu-se dele para enxugar o chão; depois, seguindo a mancha do líquido até ao canto onde se encontrava agachado o inglês, deu de caras com ele.

- Queira desculpar-me - disse John Vansittart Smith, com um requinte de delicadeza incrível. - Tive o azar de deixar-me adormecer atrás desta porta.

- E observou-me? - perguntou o outro em inglês, com uma expressão diabólica impressa no rosto cadavérico.

O estudante prosseguiu com franqueza:

- Reconheço que segui os seus movimentos e que eles até excitaram fortemente a minha curiosidade e o meu interesse.

O homem extraiu da algibeira uma comprida lâmina de aço muito brilhante.

- Escapou de boa - disse ele -, porque se o tivesse visto dez minutos antes, ter-lhe-ia atravessado o coração com esta lâmina. Agora, se me tocar ou se se meter no que não lhe diz respeito, é um homem morto.





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