Tornei a falar com Vansittart no domingo à noite. Instalaram-no nos meus aposentos do andar superior; trazia cara de estar muito molesto e de não se sentir bem. Quando lhe apertei a mão, vi que estava muito quente e seca.
- Atkinson, diga que me sirvam um pouco de sumo de limão com água. Sinto uma sede feroz e quanto mais bebo mais necessidade sinto de beber.
Toquei a campainha, pedi uma garrafa de água e copos, e disse-lhe:
- Está febril e não parece encontrar-se bem.
- De facto, perdi as cores. Tenho um ataque de reumatismo no ombro, e não me apetece comer. É esta suja Londres que me afoga. Não estou habituado a respirar um ar que foi aspirado já por quatro milhões de pulmões, que depois o lançam à nossa volta.
Agitou as mãos encurvadas em frente da cara, como se estivesse a esforçar-se realmente para respirar.
- Um pouco de mar será o suficiente para pôr-me bem outra vez.
- Sim, nesse ponto estou de acordo consigo.
- De mar é que necessito, sem qualquer outro médico.
Se não me faço amanhã ao mar, cairei doente. Sobre isto não há qualquer dúvida.
Bebeu um copo de sumo de limão, e deu pancadinhas com os nós dos dedos das duas mãos na parte inferior do ombro. Depois fitou-me com olhos turvos e disse-me:
- Parece que isto me alivia. Bom, Atkinson, preciso da sua ajuda porque me encontro numa situação bastante embaraçosa.
- Basta dizer...
- Trata-se do seguinte: a mãe da minha esposa adoeceu e pediu telegraficamente que ela se lhe juntasse. Não pude acompanhá-la porque você sabe melhor do que ninguém como ando atarefado, de maneira que teve de ir sozinha.