Contos de Mistério - Cap. 4: DE PROFUNDIS
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Apresentou-ma, ceei na sua companhia e concordámos, por último, que, atendendo a que os meus negócios exigiam também a minha presença em Ceilão, eu faria a viagem com eles no Eastern Star que devia zarpar na segunda-feira seguinte.

Tornei a falar com Vansittart no domingo à noite. Instalaram-no nos meus aposentos do andar superior; trazia cara de estar muito molesto e de não se sentir bem. Quando lhe apertei a mão, vi que estava muito quente e seca.

- Atkinson, diga que me sirvam um pouco de sumo de limão com água. Sinto uma sede feroz e quanto mais bebo mais necessidade sinto de beber.

Toquei a campainha, pedi uma garrafa de água e copos, e disse-lhe:

- Está febril e não parece encontrar-se bem.

- De facto, perdi as cores. Tenho um ataque de reumatismo no ombro, e não me apetece comer. É esta suja Londres que me afoga. Não estou habituado a respirar um ar que foi aspirado já por quatro milhões de pulmões, que depois o lançam à nossa volta.

Agitou as mãos encurvadas em frente da cara, como se estivesse a esforçar-se realmente para respirar.

- Um pouco de mar será o suficiente para pôr-me bem outra vez.

- Sim, nesse ponto estou de acordo consigo.

- De mar é que necessito, sem qualquer outro médico.

Se não me faço amanhã ao mar, cairei doente. Sobre isto não há qualquer dúvida.

Bebeu um copo de sumo de limão, e deu pancadinhas com os nós dos dedos das duas mãos na parte inferior do ombro. Depois fitou-me com olhos turvos e disse-me:

- Parece que isto me alivia. Bom, Atkinson, preciso da sua ajuda porque me encontro numa situação bastante embaraçosa.

- Basta dizer...

- Trata-se do seguinte: a mãe da minha esposa adoeceu e pediu telegraficamente que ela se lhe juntasse. Não pude acompanhá-la porque você sabe melhor do que ninguém como ando atarefado, de maneira que teve de ir sozinha.





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