Contos de Mistério - Cap. 4: DE PROFUNDIS
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Acabo de receber outro telegrama em que me diz que não poderá vir amanhã, mas que apanhará o barco quarta-feira em Falmouth.

Já sabe que tocamos ali, embora me custe, Atkinson, que se peça a um homem que creia numa coisa misteriosa, e maldito seja se não puder fazê-lo. Fixe bem: maldito seja! Nada menos do que isto.

Inclinou o busto para diante e começou a respirar com dificuldade tal como um homem prestes a soluçar.

Então recordei-me pela primeira vez de tudo quanto ouvira dizer acerca do muito que se bebe em Ceilão, e pareceu- -me que aquela estranha maneira de falar e as mãos febris poderiam ter origem na aguardente. As bochechas enrubescidas e os olhos vítreos daquele homem eram característicos de quem anda muito bebido. Produziu-me tristeza ver um jovem tão magnífico dominado pelo mais bestial de todos os vícios e disse-lhe com um pouco de severidade:

- Deveria ir deitar-se.

Revirou os olhos como se quisesse despertar e depois fitou-me com ar surpreendido, dizendo-me de maneira muito razoável:

- Irei já de seguida. Há pouco achava-me um tanto agoniado, mas já estou outra vez senhor de mim. Vejamos, de que estava a falar? Ah, sim, falava da minha mulher. Embarcará em Falmouth, mas eu preciso de fazer essa viagem por água. Creio que disso depende a minha saúde. Necessito de um pouco de ar puro, que não tenha passado por outros pulmões e isso bastará para me restituir as forças. A si, como bom amigo, peço que siga por caminho-de-ferro para Falmouth e que, se nos atrasarmos, cuide da minha senhora. Hospede-se no Royal Hotel e eu telegrafar-lhe-ei a dizer que você se encontra ali.

Será acompanhada pela irmã, de maneira que o importante é navegar com bonança.

- Farei com gosto aquilo que me pede - disse-lhe.





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