Na primeira linha dos meus primos figurava um tal Everard King, sobrinho do meu pai, regressado de Inglaterra depois de ter andado metido em aventuras e ganho uma fortuna no Brasil. De como aplicava o seu dinheiro não fazíamos nós a mínima ideia; mas devia ter muito para ter-se tornado proprietário do domínio de Greylands, próximo de Clipton-on-Marsh, no Suffolk. No primeiro ano da sua estada em Inglaterra não se inquietou mais do que eu com o meu velho avarento tio. Mas por fim, numa manhã de Verão, tive a alegria muito viva de receber dele uma carta na qual me pedia que fosse nesse mesmo dia a Greylands Court. Eu contava mais receber uma convocatória para comparecer perante o tribunal de falências: a intervenção do meu primo pareceu-me pois providencial. Um acordo com este parente desconhecido podia livrar-me de problemas. Pela honra da família, não me deixaria chegar aos últimos extremos. Ordenei ao meu criado de quarto que me preparasse a mala e parti nessa mesma noite para Clipton-on-Marsh.
Em Ipswich mudei de linha, depois um comboio local depositou-me numa pequena estação deserta, no meio de prados ondulados que um ribeiro cortava com lentos ziguezagues entre altas ribas. Em consequência de um atraso na transmissão do meu telegrama, nenhuma carruagem me aguardava na estação; supri esta falta alugando um dog-cart na estalagem local. O cocheiro, excelente rapaz, não poupava elogios ao meu parente, e soube por ele que na região já só praguejavam em nome de Everard King. Com uma inesgotável benevolência, King tinha recebido em casa as crianças da escola, aberto a sua propriedade aos visitantes, subscrito as obras de caridade de todo o género, desenvolvido, numa palavra, tantas benesses para com a população que o meu cocheiro via nisso o sinal certo de ambições parlamentares.
