Eneida - Cap. 6: Eneias no Mundo das Sombras Pág. 106 / 235

A Sibila respondeu:

— Ah!, divino filho do troiano Anquises, é coisa fácil, fácil demais mesmo, deslizar para baixo, para o Reino das Sombras. Noite e dia lá estão abertas as portas de Plutão, dando-te as boas-vindas. A dificuldade é voltar novamente ao ar puro do Céu. Isso, sim, é tarefa árdua. Somente aqueles amados de Júpiter, filhos dos próprios deuses e uns poucos mortais, cujos feitos brilhantes o céu aplaudiu, conseguiram voltar daquele vale escuro. Lá estão bosques negros e impenetráveis e os rios Cocito, Estígio e Aqueronte para barrar o caminho de volta. Se alimentas, porém, um tão grande desejo no teu coração, se tens coragem de atravessar duas vezes o Estígio, de ver duas vezes o Tártaro, se te apraz empreender uma jornada tão temerária, aprende antes os ensinamentos que te vou dar. Numa arvore sombria do Averno está escondido um ramo de ouro flexível, tanto na haste quanto nas folhas, e que dizem estar consagrado à infernal Prosérpina, esposa de Plutão, deus do Mundo das Sombras. Toda a floresta procura esconder o ramo valioso dos olhos dos mortais, mas somente aquele que o encontrar e arrancar poderá retornar, são e salvo, da jornada. Arrancado o ramo, outro logo surge, -coberto da mesma maneira do reluzente metal. Com os olhos para o alto, pois, Eneias, procura o ramo e, depois do encontrares, colhe-o segundo os rituais sagrados. Se os Fados te chamam, ele cederá facilmente e deslizará até atrás de ti, mas de contrário não haverá força mortal capaz de separá-lo do tronco a que pertence, nem o cortaria o aço mais afiado. Leva-o como oferenda a Prosérpina. Mas há mais uma coisa que te quero dizer. Ainda desconheces tal facto, mas o corpo do teu amigo Miseno jaz neste momento sobre a areia tinta de sangue, ao lado da frota troiana. Vai e enterra-o primeiro.

A Sibila calou-se e as muitas bocas das cavernas também se silenciaram. Com as feições entristecidas pela noticia, Eneias deixou o antro da pitonisa, enquanto no seu espírito tumultuavam as lembranças daqueles acontecimentos misteriosos. Acates acompanhava-o, também preocupado e pensativo. No caminho procuravam em vão interpretar as palavras da adivinha sobre o corpo que devia ser sepultado.





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