Eneida - Cap. 6: Eneias no Mundo das Sombras Pág. 112 / 235

A pálida sombra do piloto respondeu:

— Ó capitão Eneias, filho de Anquises, não te enganou o oráculo de Febo, nem um deus me afundou no mar. Ao cair, arrastei comigo o leme, ao qual estava seguro no meu posto, guiando o barco. Juro que o meu medo de morrer afogado não foi maior do que o que tive sabendo que a tua nau, despojada de direcção, estava entregue aos ventos e as ondas. Durante Ires dias e três noites segui pelos mares frios empurrado pelo Noto violento. Somente ao quarto dia, levantado na crista de uma onda, divisei as terras da Itália. Pouco a pouco fui nadando, aproximando-me da costa, até que atingi um lugar seguro, agarrando-me a um rochedo. Mas, ah! Os meus dias estavam contados! Ali mesmo naquele local, me mataram os bárbaros habitantes com as suas lanças. Agora, o mar possui o meu corpo e os ventos arremessam-me à praia. Ó Eneias, pela quente luz do Géu, pelo teu pai e por teu filho Ascânio, livra-me desse destino triste. Pesquisa as praias de Vélia em busca do meu corpo e sobre ele lança alguns punhados de terra. Que os deuses desses reinos escuros debaixo da terra considerem tal coisa rim funeral e concedam paz à minha alma sem descanso, pois antes disso

Interveio então a Sibila, dizendo:

— Cessa os teus lamentos, Palinuro, e não penses que as tuas súplicas poderão alterar os destinos do Céu. Mas ouve o que te digo e consola-te, pois os povos vizinhos da costa onde foste lançado deverão, pela vontade divina, fazer-te um honroso funeral com todos os rituais, construindo uma grande sepultura para ti. Dai em diante, aquele litoral passará a ser conhecido por todos como o cabo Palinuro.

E de facto assim o é até hoje. Com aquelas palavras a alma do piloto encheu-se de alegria e terminaram os seus cuidados.





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