Eneida - Cap. 6: Eneias no Mundo das Sombras Pág. 113 / 235

Avançaram de novo os dois carninbantes, aproximando-se do rio. Vendo-os, ainda no seu barco, a caminhar pelo bosque silencioso, Caronte gritou-lhes, enraivecido:

— Quem quer que sejas, ó tu, que vens armado para nossas águas, diz já a que vens e detém o teu passo. Este é o reino da Morte, do Sono e da Noite. Não me é permitido transportar nesta barca corpos vivos. Já o fiz antes e arrependi-me. A Hércules, Teseu e Pírito levei-os para o outro lado, a eles que eram descendentes de deuses e invencíveis de força. Hércules tentou acorrentar o guardião do Tártaro e os outros dois acharam que podiam roubar a rainha Prosérpina dos aposentos do próprio deus Plutão.

Assim lhe respondeu então a profetisa:

— Não tenhas medo, Caronte, pois não estamos imbuídos dessas más intenções, nem as nossas armas são portadoras de violência. O gigantesco cão porteiro, Cérbero, guardião do Tártaro, poderá continuar a amedrontar as pobres almas condenadas com o seu ladrar monstruoso. Prosérpina continuará a descansar em paz, sem ser importunado. O meu companheiro Eneias, famoso pela sua piedade e valor, veio falar com seu pai, Anquises. Se a sua fama ainda não chegou a estas paragens ou se a elas não dás importância, olha pelo menos para este ramo de ouro que trago para a tua rainha.

Calando-se, retirou o galho dourado de debaixo das vestes. A ira de Caronte cessou imediatamente e, depois de admirar a oferenda durante longo tempo, o carrancudo barqueiro dirigiu a sua embarcação para a praia Em seguida, expulsou dela as almas sentadas nos longos bancos, ante os seus protestos e gemidos, fazendo entrar o rei troiano e a profetisa. Gemeu e adornou o frágil barco sob o peso desusado de corpos vivos, fazendo entrar bastante água, mas o barqueiro hábil levou-os são e salvos até à outra margem.





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