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Capítulo 6: Eneias no Mundo das Sombras

Página 114

Reclinado no seu imenso antro, o cão Cérbero fazia tremer os ares com o ladrar das suas três gargantas e o sibilar das muitas serpentes enroscadas nos seus pescoços. A profetiza, vendo o perigo, lançou ao monstro uma beberagem soporífero feita de mel e de ervas condimentadas que foi imediatamente engolido. Adormecido assim o guarda, Eneias e a sua companheira lançaram-se rápidos pela passagem, entrando na própria casa de Plutão.

Logo à entrada, depararam com o espectáculo triste de muitas almas de crianças, que, impedidas de gozar a vida, já que haviam sido arrebatadas pela morte dos braços maternos, ainda pequenas, choravam e lamentavam o seu destino. Junto a elas estavam os que, condenados por crimes não cometidos, tinham morrido inocentes. Mas também lá não lhes faltava juiz. O rei Minos ali se encontrava, agitando a urna, realizando os julgamentos e escolhendo os jurados. Mais além, apareciam os espíritos dos suicidas, que, assoberbados pelas desgraças, odiaram a luz e o calor da terra, acabando com as próprias vidas. Estavam condenados a vagar eternamente por entre os pântanos escuros que bordejam o Estige. Como desejariam agora voltar ao altar da vida, pouco lhes importando quanto trabalho e tristeza tivessem de sofrer!

Não longe, surgiram os campos das Lágrimas em cujas veredas estreitas, cercadas por floresta de mirtos por todos os lados, se escondiam os que um amor cruel e rude matara. Nem a morte os livrara das suas dores e cuidados. Lá estavam Fedra, esposa de Teseu, Prócris e a triste Erifile mostrando as feridas recebidas do filho pérfido. Viram também Evadne e Pasífa, esposa do rei Minos.

Entre eles vagava também a infeliz Dido, há pouco morta. Vendo a sua sombra escura, Eneias parou enternecido, como quem vê a lua surgir de entre as nuvens e, chorando, falou-lhe:

— Ó Dido infeliz, agora me faço certo do que já me perseguia como suspeita atroz! De que tinhas posto fim aos teus sofrimentos com a minha espada. Ai! Eu fui a causa da tua morte! Juro, ó rainha, pelas estrelas e pelos deuses do céu e pela fé, se alguma existe nas profundezas da terra, que foi contrariado que me retirei das tuas praias. Não fui eu, mas os deuses que me obrigaram a fugir de ti como agora me imperem através destas sombras, por estes reinos escuros e estas águas tenebrosas. Não podia eu crer que te pudesse causar tão grande dor com a minha retirada. Pára e não te retires da minha vista. De quem foges? É esta a última vez que te falo, pois assim o dispõem os deuses.

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Capa do livro Eneida
Páginas: 235
Página atual: 114

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A Queda de Tróia 1
Partem os Troianos 20
Eneias Chega a Cartago 38
Eneias e Dido 57
Os Jogos Fúnebres 79
Eneias no Mundo das Sombras 102
Os Troianos Desembarcam na Itália 124
Eneias em Apuros 141
Os troianos são Cercados 157
A Assembleia dos Deuses 177
O Rei Latino Pede Paz 195
O Combate Final 215