Eneida - Cap. 6: Eneias no Mundo das Sombras Pág. 117 / 235

— Dize-me, ó profetisa, de que espécie de crimes são culpados aqueles e a que penas foram condenados? Porque se eleva um tão grande gemer?

— Ó rei ilustre dos troianos, a nenhum mortal piedoso é permitida a entrada naquela porta, mas quando Prosérpina me colocou como guardiã dos bosques de Averno, ela mesma me ensinou os castigos dos deuses e tudo me mostrou. Rodamonte de Creta Governa essas garagens más, ouve os condenados e as culpas, castiga as fraudes, obriga sob torturas a confessar os pecados contra os mortais — pecados deixados sem confissão até a hora da morte, alegrando-se os seus detentores com uma falta vá. Imediatamente, Tisífone, vingadora, armada de azorrague, olhos cruéis iluminados de alegria ao levantar e baixar o chicote, açoita os culpados. Na outra mão agita as suas hórridas serpentes e lança as Fúrias suas irmãs, tão selvagens quanto ela mesma.

Abriram-se as portas da morada infernal e a Sibila gritou a Eneias:

— Vês Tisífone sentada em guarda permanente ao portão? Lá dentro, naquele vestíbulo, tem assento uma hidra cruel, mais cruel que as cem Fúrias, com as suas cinquenta bocas negras. Mais adiante está o Tártaro propriamente dito, abismo escancarado que atinge, na sua profundidade, duas vezes a altura do Olimpo à terra. Naquele poço de dor e tristeza, os filhos de Tita, os primeiros filhos da antiga Terra, foram lançados pelo raio relampejante de Júpiter e lá agora se revolvem em agonia. E lá estão também os enormes filhos gémeos de Alódio, que tentaram com as mãos rasgar o céu e arrancar o omnipotente Júpiter do seu trono dourado. Também vi Salmoneu, condenado por tentar imitar os sons do Olimpo e os raios de Júpiter. Galopando arrogantemente no seu carro de quatro cavalos pela Grécia, agitava um archote flamejante e batia os bronzes — pobre imitação dos barulhos do Olimpo — exigindo divindade para si mesmo. Louco! Julgou poder imitar com o bronze e o tropel dos cavalos o trovão e o raio! No entanto, o Todo-Poderoso lançou-lhe o seu raio por entre as nuvens espessas — não archotes ou nós de pinheiro soltando fumaça negra, desta vez — arremessando o ímpio às profundezas do Inferno, entre imenso turbilhão de chamas. Também lá estava Títio, filho da Terra, mãe de todas as coisas.





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