Eneida - Cap. 7: Os Troianos Desembarcam na Itália Pág. 130 / 235

Não lhe entusiasmavam o manto, o ceptro, a taça e os outros presentes, pois tinha o pensamento fixo nas palavras de seu pai, o deus Fauno, aconselhando-o a casar a filha com um estrangeiro ali vindo a chamado dos deuses, sob auspícios felizes. Do consórcio nasceria descendência que subjugaria o mundo inteiro. Finalmente, alegrando-se, exclamou:

— Protejam os deuses as nossas empresas e o seu presságio! Ser-te-á dado o que desejas, troiano. Aprecio os presentes enviados pelo teu rei. Enquanto governar, não vos faltarão os produtos do campo fértil nem a riqueza a que estáveis habituados na vossa Tróia opulenta. E, agora, que o próprio Eneias — se tão grande é o seu desejo de se juntar a nós como aliado e de aceitar a nossa hospitalidade — venha e veja um rosto amigo. Para mim, será o primeiro penhor da nossa aliança apertar a mão do vosso soberano. Levai-lhe agora em resposta o seguinte: tenho uma filha que nem os oráculos do santuário de meu pai, nem os numerosos prodígios do céu, permitem unir em matrimónio a homem destas terras. Predizem os adivinhos que virão estrangeiros de terras longínquas e que dessa união sairá formosa descendência capaz de elevar a nossa fama até às estrelas. Julgo que os destinos o apontam, a ele Eneias, como meu sucessor. Se tal é verdade, diga-lhe que muito me alegro.

Tendo preferido estas palavras, Latino ordenou que fossem colocados à disposição dos embaixadores troianos cem dos trezentos corcéis magníficos existentes nas cavalariças reais — um para cada um — cobertos de mantos purpurinos e xaireis bordados e com freios de ouro. A Eneias mandou de presente um carro puxado por dois cavalos de estirpe imortal, que lançavam fogo pelas ventas. Com tais dádivas e propostas de paz, os troianos retornaram ao acampamento.

Nesse momento, a implacável Juno cruzava os ares e avistou Eneias alegre e a frota Sardónia ancorada, enquanto os troianos lançavam os alicerces da sua nova morada. De olhar fixo e coração trespassado de cólera, a deusa soltou do peito estas palavras:

— Ah, raça odiosa, cujos destinos são tão contrários aos meus! Não morreram esses homens nas batalhas infindável da guerra, não foram capturados, não pereceram nas chamas da cidade!





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