Eneida - Cap. 7: Os Troianos Desembarcam na Itália Pág. 133 / 235

Então, como que possuída do espírito do deus Baco, Amata fugiu com a filha para as montanhas, escondendo-se no próprio coração da floresta mais deserta e esperando assim protelar o casamento troiano.

— Salve, Baco! — gritava. — Tu és o único pretendente digno de Lavínia. É em tua honra que ela acena com as grinaldas de hera. É para ti que ela dança e para ti deixa crescer o cabelo ondulado.

A sua loucura propagou-se a outras pessoas. Por toda a parte as mães, com os Feitos inflamados da paixão selvagem, abandonaram os lares e iam unir-se a ela na orgia. Com os pescoços nus, os cabelos flutuando loucamente ao vento, enroladas em peles e carregando chuços envoltos em ramos de vinha, lançavam ao ar gritos penetrantes. A própria Amata, no meio das outras mulheres, ardendo em cólera, segurava um facho inflamado e proclamava o casamento de sua filha com Turno. Revirando desvairadamente os olhos sanguinolentos, gritava:

— Ó mães do Lácio, ouvi, onde quer que estejais, se alguma compaixão tendes da infeliz Amata em vossos corações, se algum amor tendes às vossas filhas, soltai as fitas das vossas tranças e cerebral comigo estas orgias sagradas.

Assim a tinha transformado Alecto, a pérfida divindade, levando-a à loucura. A Fúria, terminada a sua tarefa na casa de Latino — pondo a esposa contra o marido — voou com as asas negras para o reino rótulo de Turno. Chegando-se ao jovem na hora mais escura da noite, Alecto abandonou a cara e os membros horrendos de Fúria, transformando-se em figura de velha, f cá hedionda sulcada de rugas. Os cabelos brancos, ligou-os com alva fita, neles colocando um ramo de oliveira. Era agora Cálibe, antiga sacerdotisa de Juno e do templo, e apresentou-se ao jovem com estas palavras:

—Turno, consentirás tu que tantos esforços tenham sido gastos inutilmente e que o teu ceptro seja entregue aos dardanios? O rei recusou-te o consórcio e em teu lugar é admitido um estrangeiro! Suportarás tal escárnio? Levanta e chama o teu povo às armas. Cai sobre esses troianos estrangeiros e queima-lhes os navios. Vai e diz ao rei Latino que — a menos que mantenha a sua palavra de te dar Lavínia como esposa — passará a contar-te entre os inimigos. Foi a própria omnipotente filha de Saturno que me mandou dizer-te estas coisas na calada da noite. Portanto, andar vai resoluto e ordena que os teus guerreiros se armem e saiam das portas para a guerra. Extermina os chefes troianos que acamparam junto ao rio famoso, queima-lhes as naus. Assim manda a suprema vontade dos deuses do Olimpo.





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