Eneida - Cap. 8: Eneias em Apuros Pág. 153 / 235

Continuou:

— Por fim, cansados de tantas crueldades, juntaram-se os súbditos enraivecidos e atacaram o palácio, ateando fogo ao edifício e matando todos os seus partidários. Mezêncio, no entanto, conseguiu escapar para o território dos rótulos, onde Turno lhe deu guarida. Sublevou-se, então, toda a Etrúria com justo motivo, reclamando o rei para o castigo merecido. São esses mil guerreiros lídios, Eneias, que procurarei colocar sob as tuas ordens. Os navios deles estão no porto, prontos para zarpar contra o reino inimigo, mas um antigo profeta insiste que não o façam. Diz ele: «O bravos guerreiros de uma raça antiga! Ninguém há na Itália capaz de levar povo tão valoroso à guerra. Esperai um pouco com paciência e dos mares surgirá um estrangeiro que vos levará à vitória!» Os chefes ódios acataram a palavra do oráculo e acamparam junto ao porto. Chegaram a enviar-me embaixadas, oferecendo-me a coroa e o ceptro do reino, para que os liderasse, mas a minha idade já não permite que me lance em tais proezas. Exortaria o meu filho a assumir o posto, não fosse ele herdeiro de outro reino por parte de sua mãe de origem sabina. Tu, a quem os deuses, a idade, o valor e a força favorecem, apresenta-te candidato e reúne troianos e italos. Aqui tens o meu filho Palas como companheiro. E a minha esperança e salvação. Acostuma-o, sob a tua direcção, às artes de Marte. Contigo seguirão quatrocentos cavaleiros do meu reino.

Eneias e o fiel Acates ficaram silenciosos por um momento, com os olhos fixos no chão. Muitos pensamentos lhes vinham à mente. As dificuldades da tarefa, a falta de armas e as peripécias da guerra. Então, subitamente, surgiu do céu um sinal enviado por Vénus. Relâmpagos cortaram o firmamento, a terra tremeu com o fragor do trovão que rugia e estourava continuamente, enquanto um som de trombeta partia das nuvens. Tudo parecia desabar de repente no mundo em convulsão. Erguendo a vista, divisaram o rutilar de armas entre o ajuntamento de nuvens. Todos pararam estupefactos ante aquela visão sobrenatural, mas Eneias, percebendo que era um sinal da sua divina mãe, convocando-o para a luta, disse:

— Ah, meu hóspede benquisto, não procures saber agora que acontecimento anunciam estes prodígios, mas sabe que é a mim que o céu se dirige.





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