Eneida - Cap. 8: Eneias em Apuros Pág. 154 / 235

(Continuou)

— Vénus, minha mãe, predisse que haveria de enviar esses presságios, se a guerra sobreviesse, e pelos ares me faria trazer auxilio com armas de Vulcano. Ai! Quantas mortes ameaçaram os desgraçados laurentinos! E tu, ó Turno, como tenho piedade de ti! Que quantidade de escudos, de capacetes e valentes corpos de heróis rolarão nas tuas águas, ó pai Tiberino!

Saíram logo a oferecer sacrifícios a Hércules e aos deuses domésticos. Em seguida, Eneias foi para os barcos troianos e dentre os seus tripulantes escolheu os mais valentes para serem seus tenentes na guerra. Os outros embarcaram e, deslizando céleres pelas águas do Tibre, foram levar a Ascânio e ao restante da pátria troiana noticias do pai e dos acontecimentos. Apresentaram-se os cavaleiros árcades postos à disposição de Eneias e a este foi trazido um maravilhoso corcel coberto com uma fulva pele de leão, cujas unhas encastoadas de ouro rebrilhavam.

Subitamente, chegou a noticia de que se aproximavam, vindas das fronteiras da cidade, tropas montadas. O deus da guerra já ameaçava todos de perto. O medo crescia, as mães apertavam os filhos contra o peito. Evandro, segurando a mão do filho como despedida, chorava copiosamente dizendo:

— Oh! Se Júpiter me devolvesse aos meus anos passados! Tal qual eu era quando em assalto às cidades inimigas derrotei a primeira linha de combatentes e, vencedor, fiz uma fogueira com montões de escudos! Quando, com esta mão que aqui vês, enviei ao Tartaro o próprio rei Erilo, a quem sua mãe, Ferónia, dera ao nascer — prodígio espantoso de contar-te!— três almas e três armaduras. Três vezes tinha de ser derrubado pela morte. Todavia, este meu braço arrancou-lhe todas as vidas e despojou-o de outras tantas armaduras. Se fosse mais jovem, não me separaria agora em parte alguma dos teus braços, filho, nem jamais Mezêncio teria zombado de meu reino, nem cometido tantos crimes torpes. Mas eu vos suplico, ó deuses, e sobretudo tu, ó Júpiter, soberano de todos eles, compadecei-vos do rei da Arcádia e ouvi os lamentos de um pai. Se os vossos decretos divinos, se os destinos me devolverem Palas incólume, se eu ainda voltar a vê-lo na terras peço-vos a vida.





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