Eneida - Cap. 8: Eneias em Apuros Pág. 156 / 235

Dispôs então as armas reluzentes, bem arrumadas debaixo de um frondoso carvalho. Eneias, maravilhado com a dádiva, não se cansava de passear os olhos extasiados pelos objectos de guerra. Admirava-os, segurava-os e revirava-os nas mãos. O capacete de penacho, a couraça, rutilante, imensa, qual nuvem azulada que se inflama aos raios do Sol e refulge ao longe. As perneiras de ouro refundido, a lança e a contextura do escudo, impossível de descrever. Nele se via esculpida toda a história da Itália, não só dos acontecimentos passados, mas também dos factos presentes e até futuros, pois não o deixara por menos o imortal Vulcano, no desejo de agradar à esposa. Ali estavam representados os dois meninos gémeos, Rómulo e Remo, e a loba que os amamentaria. As altas muralhas e torres de Roma, ainda não levantadas. As mulheres sabinas, raptadas pelos jovens romanos. Rómulo pregando a guerra, Mécio, que por suas mentiras era esquartejado por quadrigas atadas aos membros e postas a galopar em direcções diversas. Tulo, mais tarde, arrastando pela selva os pedaços do mentiroso, com o sangue gotejando nas moitas e ensopando a terra. Os descendentes de Eneias lutando valentemente pela liberdade. Os gansos de prata do Capitólio grasnando loucamente pelas ruas, alertando assim os romanos de que os inimigos bárbaros, os gauleses, lhes estavam às portas, e também estes, agachados nas touceiras escuras, prontos para assaltar as muralhas

Eneias acompanhava todas estas cenas com os dedos e, de vez em quando, os seus lábios soltavam exclamações de surpresa ante a perfeição e delicadeza da escultura e da arte dos berreiros gigantescos.





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