Eneida - Cap. 9: Os troianos são Cercados Pág. 164 / 235

— Certamente — acrescentou Ascânio —, eu, para quem a única salvação consiste no regresso de meu pai, juro-vos, Niso, pelos grandes Penates, pelo deus Lar e pelo santuário da deusa Vesta, que toda a esperança que tenho a deposito em vós. Trazei o meu pai, restitua-me a presença dele, pois nada de mal acontecerá estando ele aqui. Dar-vos-ei dois copos feitos de prata, ornados com figuras em relevo, que meu pai trouxe de Arisba, e também duas trípodes, dois talentos de ouro e uma taça antiga ofertada pela rainha Dido. E mais, se algum dia a meu pai couber, como vencedor, o ceptro da Itália e os despojos dos latinos vencidos, será vosso o lindo corcel que ora monta Turno, com todas as suas armas e vestimentas de ouro, além do escudo e do capacete de plumas purpúreas, pois a tudo excluirei da sorte. São prémios já a ti concedidos, ó Niso. Muitos escravos e presentes também te dará Eneias, além das terras que actualmente possui o rei Latino. A ti, Eurfalo, de cuja idade já me aproximo, a ti me chego e abraço como companheiro. Nenhuma glória procurarei sem ti. Quer trate a paz, quer faça a guerra, ouvirei sempre os teus conselhos.

Em resposta ao jovem Ascânio, disse Eurfalo:

— Rogo aos deuses, príncipe, para que nunca me aches indigno de tão alta honra e que nunca falte à tua confiança. Mas tenho um favor a pedir-te. Minha mãe, já de avançada idade, pertence à família de Príamo. Não a releve Tróia, nem tão pouco a Sicília do rei Acestes. Quero, no entanto, deixa-la ignorante da perigosa missão a que me lanço, pois o céu é testemunha de que não poderia suportar-lhe as lágrimas. Peço-te, portanto, que a consoles e ampares, porque a minha partida a fará enormemente infeliz. Se assim o prometeres, irei mais esperançoso enfrentar todos os perigos.





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