Eneida - Cap. 9: Os troianos são Cercados Pág. 172 / 235

(continuou)

— Vós amais os trajes pintados com açafrão e púrpura. O vosso coração é cheio de preguiça e gostais de vos entregar à dança. As vossas tónicas são enfeitadas com mangas e as vossas mitras são-no com fitas, ó troianas, pois nem verdadeiros troianos sois. Ide para os altos do Díndimo e juntai-vos lá às loucas seguidores de Gibele que dançam ao som da flauta, dos tambores e dos pífaros. Deixai as armas aos homens e abandonai a guerra.

Rubro de cólera ante tais insultos à sua raça, Ascânio não pôde conter-se. Ajustou uma seta à crina e, alçando os olhos para o céu, fez a Júpiter esta invocação:
— Ó Pai Omnipotente, favorecer a minha audácia nascente. Eu mesmo te levarei aos altares um novilho de fronte dourada.

O pai dos deuses ouviu-o e fez trovejar como agouro a parte esquerda do céu que no momento se apresentava serena. A seta, puxada para trás com o arco retesado, partiu sibilando horrivelmente e atingiu a cabeça de Rémulo, e o farpão atravessou-lhe as frontes.

— Vai agora, rótulo, e zomba da virtude em tom orgulhoso como o fizeste há pouco. Esta é a resposta dos troianos, duas vezes vencidos.

O entusiasmo dos defensores foi enorme. Os aplausos prorromperam de todos os pontos da posição e a sua vontade de resistir duplicou.

Apolo, sentado numa nuvem e observando o acampamento troiano, dirigiu então estas palavras ao jovem guerreiro:

— Prossegue com novo alento, ó jovem guerreiro! Assim é que se chega aos astros. Pela descendência de Assácaro e por teu merecimento, cessarão todas as guerras e reinará a paz. Tróia não te podia conter. Era pequena para ti.





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