Eneida - Cap. 10: A Assembleia dos Deuses Pág. 187 / 235

Eneias retrucou-lhe:

— É a herança de teus filhos, essa riqueza toda que me ofereces. Turno, ao assassinar Palas, impossibilitou todos os resgates, toda a troca de vidas por ouro. Tudo o que é costume na guerra foi abolido por aquela morte. É assim que o quer o espírito de meu pai Anquises e assim também pensa Ascânio.

Agarrando o guerreiro pelo capacete, torceu-lhe o pescoço e neste enterrou a espada até aos copos. Atacou em seguida o filho de Hémon, sacerdote de Apolo e Diana, o qual, aterrado, disparou pelo campo em grande correria. Eneias, no entanto, alcançou-o e prostrou-o com um golpe certeiro. Seresto, que assistira ao lance, despojou-o das armas como oferenda ao deus Marte.

E muitos outros conheceram as suas armas, pois a dor da morte do príncipe árcade tornaram-no alucinado de cólera. Assim caíram mortos Cécula e Umbkao, que tentaram restabelecer a formação das tropas. A Anxure decepou a mão esquerda, como castigo pelas palavras arrogantes que lançara ao troiano. A Tárquito, que se pavoneava atrás das armas, Eneias decepou a cabeça de um só golpe, cortando-lhe a voz ainda na garganta, voz que suplicante queria dizer muitas coisas. Parecia ter cem braços, tal qual Egéon, o ímpio, que diziam que cuspia fogo pelas suas cinquenta bocas e que levantava contra os raios de Júpiter as suas cinquenta espadas e outros tantos escudos.

Agora já virava a maré da batalha. Ascânio e os sitiados, aproveitando -se da confusão e do morticínio lançados por Eneias no campo inimigo, já tinham deixado o entrincheiramento e combatiam na planície.





Os capítulos deste livro