Eneida - Cap. 10: A Assembleia dos Deuses Pág. 191 / 235

Por avisos de Júpiter, Mezêncio assumiu a liderança e reuniu os seus dispersos batalhões. Lançaram-se todos os troianos ao ataque do cruel guerreiro, rei de Agila, mas este avançava pela turba qual rochedo que, exposto às fúrias dos ventos e das ondas do mar, resiste a toda a violência do céu e da terra, permanecendo inabalável. Aquele monumento de crueldade e vilania não era um cobarde. A sua fulgente espada ceifou muitos, os seus dardos poderosos muitos trespassaram e muitos tiveram as cabeças esmagadas pelas pesadas pedras arrojadas. Entre eles caiu Mimanre, da mesma idade e companheiro de Páris.

Avançava Mezêncio pelo campo, brandindo a lança, tão grande como o gigante Orion que percorre a pé os caminhos aquosos de Nereu, quando Eneias o avistou e se lhe dirigiu. Mezêncio aguardava-o, impávido e imóvel. Chegando a uma boa distancia para o dardo, exclamou Eneias:

— Vale-me tu agora, ó minha destra, único deus para mim e tu, ó dardo, que arrojo.
Saiu a arma pelos ares com um som estridentíssimo, mas, ricocheteando no escudo do troiano, foi atingir Antores, companheiro de Hércules, vindo da Grécia para auxiliar Evandro. Eneias lançou outro dardo com extrema violência e velocidade. Desta vez, a aguçada ponta de ferro perfurou as três laminas de bronze, três de linho e três couros de boi do escudo do inimigo e enterrou-se junto à sua virilha. Vendo correr sangue do rei, o troiano sacou da espada e avançou célere sobre Mezêncio que, atordoado com a pancada e atrapalhado com o chuço que lhe pendia do corpo, começou a recuar. Então Lauso, alarmado, lançou-se entre o inimigo e seu pai e, aparando os golpes daquele, protegia a retirada deste. De todos os lados acudiam os rótulos e uma saraivada continua de setas e dardos cala sobre o filho de Vénus. Este encobria-se com o escudo qual agricultor ou viajante que, protegendo-se do granizo repentino ou da chuva inesperada que desaba na estrada ou no campo, procura refugio debaixo de um rochedo saliente ou numa caverna, esperando que o sol volte a brilhar. E gritava encolerizado para Lauso:

— Ó tu que vais morrer, para onde te retiras? Não tentes maiores proezas que as que te permitam as tuas fracas forças. A tua piedade filial leva-te à desgraça!





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