Eneida - Cap. 11: O Rei Latino Pede Paz Pág. 196 / 235

E continuou:

— Quão diferente das promessas que fiz a teu pai, quando por ocasião da despedida, entregando-te aos meus cuidados, me assegurava que eu partia para uma luta cruel contra inimigos intrépidos e aguerridos. E agora, alimentado por vã esperança, talvez faça votos e encha os altares de oferendas, enquanto nós, tristes, acompanhamos às honras fúnebres aqueles que já nada devem as divindades. Infeliz és tu, ó Evandro, que assistirás aos funerais do filho. São estes o nosso regresso e triunfo tão esperados! É esta a promessa que te fiz! Mas, pelo menos — se isso pode servir de consolo — não o verás cair a golpes vergonhosos, nem ocasião terás de desejar-lhe não ter nascido. Que grande auxilio perde agora a Itália, e a ti, Ascânio, de que bom companheiro a morte te priva!

Às suas ordens, então, mil guerreiros de todo o exército partiram escoltando o cortejo fúnebre. Teceram primeiro um féretro de grades, flexível, com varas de medronheiro e de carvalho, e fizeram um tecto de folhas para tal leito. E nesse féretro colocaram o corpo do pobre moço. Quase vivo em aparência, fazia lembrar uma violeta delicada ou um jacinto mimoso que, colhidos há pouco por uma gentil donzela, não tivessem perdido ainda o brilho e o frescor. Eneias mandou vir duas vestes, que a sua bem-amada Dido lhe tecera, entremeando os fios de ouro, e com elas revestiu o cadáver. Ao lado do esquife foram arrumados os cobiçados troféus tomados aos inimigos derrubados pelo próprio Palas. Seguiam ainda, mãos atadas às costas, os prisioneiros que expiariam as suas vidas junto ao altar dos deuses e na pira funerária para satisfação dos olhos paternos. Aos chefes arcádios, ordenou Eneias que preparassem troncos ornados com as armas dos principais inimigos mortos e que os nomes destes ali fossem gravados. Ao lado do cortejo, caminhava o velho Acetes, passas trôpegos, dando Cunhadas no peito, as faces enrugadas cheias de arranhões que a si próprio fizera com as unhas. Atirava-se constantemente ao chão, para junto do féretro. Seguia-se um enorme bando de troianos, etruscos e arcádios com as armas abaixadas. Palas era acompanhado nessa última viagem pelo seu cavalo, de crina a cobrir-lhe os olhos, e também por carros salpicados de sangue rótulo. A sua lança e o seu capacete eram levados por guerreiros. As outras armas e despojos estavam na posse de Turno.





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