Eneida - Cap. 11: O Rei Latino Pede Paz Pág. 201 / 235

Diomedes, depois de nos ouvir, respondeu com voz tranquila:

— Ó filhos da Itália? que destino infiel vos rouba a paz serena e vos persuade a tomar parte em guerras de êxito incerto? Todos nós, gregos, que assaltamos, destruímos, queimemos e saqueámos a grande cidade de Tróia, todos nós sofremos muito. Não falo somente das adversidades da guerra que ceifaram a vida de muitos companheiros junto às muralhas imponentes da cidade ou encheram o Simois e o Xanto de cadáveres helénicos, mas de coisas acontecidas mais tarde, depois de carregados os navios com o produto do saque. Como pensávamos ser felizes, como julgávamos proteger-nos os deuses! Mas escutai como sofremos. Primeiro, atravessamos uma tremenda tempestade desencadeado por Minerva, que nos desbaratou a frota em todas as direcções. A seu mandado, o rei Neoptólemo fez brilhar luzes traiçoeiras que levaram muitos barcos ao naufrágio nas suas costas de escolhas submersos. Menelau, filho de Atreu, andou exilado por oito longos anos nas terras dos egípcios. Agamémnon, seu irmão, o mais poderoso dos reis gregos, foi assassinado, às portas do palácio real, pelas mãos ímpias da esposa e das do seu traiçoeiro amante. Plissas vagou pelos oceanos durante muitos anos, enfrentando toda a espécie de perigos, incluindo Circe, a feiticeira, e os ciclopes do Etna Pereceram na aventura todos os seus companheiros e ele mesmo só conseguiu retornar à pátria em condições miseráveis. Para cúmulo da desgraça, lá o esperavam uma casa delapidada por libertinos, a sua fortuna gasta, a esposa apoquentada pela malta que ainda ameaçava a vida do filho. Pirro, filho de Aquiles, foi morto por uma punhalada, quando orava aos deuses junto aos altares. Idomeneu foi expulso da sua terra em Creta, tendo ido fundar um reino na Itália. Quanto a mim, os deuses proibiram-me que voltasse a ver a minha terra natal e a minha bela esposa Cálidon, que me esperava saudoso. Os meus companheiros foram transformados em pássaros que fogem através dos ares, vagueiam pelos rios ou soltam gritos estridentes e lamentosos em torno das ilhas pedregosas no meio dos oceanos. No entanto, que poderia eu esperar, eu que — ó insensato! — ataquei com a espada a formosa Vénus na planície troiana, ferindo-a na mão direita. Não, amigos, não me exorteis a tais combates. Não farei guerra alguma contra os troianos. Esses presentes que trazeis, levai-os a Eneias e com ele fazei a paz.





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