Eneida - Cap. 11: O Rei Latino Pede Paz Pág. 209 / 235

Também com os rótulos e etruscos se passava a mesma coisa. Avançavam de uma feita para logo em seguida recuarem, premidos pelas lanças adversárias. A batalha toda assemelhava-se ao mar quando, furioso, investe contra a praia e alaga as areias até longe com a força das suas ondas, para logo se retirar de novo, recuando para o líquido leito e abandonando o terreno conquistado.

Numa terceira fase o combate generalizou-se. Já não corriam velozmente para lá e para cá os inimigos, mas cada um procurava o adversário que havia de ferir. E encheu-se o céu com o gemido dos moribundos e o grito audaz dos vencedores. Corpos de cavalos semimortos, misturados com a carnificina dos guerreiros, envolviam a terra num pélago de sangue.

No meio da confusão exultava Camila, armada da aliava de casca de coco das amazonas, ora arremessando flechas, ora lançando mão de cortante machadinha. Nos seus ombros brilhava um arco de ouro, presente de Diana. Até mesmo na fuga manejava-o com perícia, lançando traiçoeiras setas para trás. Que guerreiro, ó terrível amazona, derrubaste primeiro com o teu dardo? Qual seria o último? Quantos corpos lançaste por terra moribundos?

Órnito, caçador afamado dos etruscos, viu-se separado dos esquadrões que se retiravam. Cobria-lhe os ombros uma grande pele de touro bravo. Enorme goela entreaberta e dentes alvibrilhantes de lobo ornamentavam-lhe o capacete. Nas mãos agitava um rústico chuço. Altíssimo de estatura, a sua cabeça sobressaía acima da turba. Aproveitando-se do seu atraso, Camila trespassou-o com uma seta e disse-lhe rancorosa:

— Julgavas, ó tirreno, que caçavas feras nos bosques. Chegou o dia em que expiarás as tuas bazófias por mãos femininas. Todavia, aos manás de teus pais irás glorioso dizer que morreste às mãos da valorosa Camila.

Noutro lance, o filho de Auno, que habitava os Apeninos, achou-se frente a frente com a invencível amazona.





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