Eneida - Cap. 11: O Rei Latino Pede Paz Pág. 212 / 235

Encontrando um ponto vulnerável na armadura da moça, o férreo projéctil penetrou-lhe profundamente no peito. As companheiras, assustadas, correram a amparar a rainha moribunda. Alegre pelo feito e ao mesmo tempo temeroso pelas consequências, Arunte fugiu veloz, pouco confiante nas suas armas, à semelhança do lobo que, tendo morto o pastor ou um grande novilho, foge veloz para a floresta escura, antes que os dardos o persigam, ventre colado, cauda entre as pernas, cheio de medo.

A própria Camila tentou arrancar o farpão da ferida, mas a penetração fora profunda e a arma estava presa. Caiu meio desmaiada, fechando-se-lhe os olhos para a morte e tornando-se-lhe lívida a face. Disse então a Aca, a mais dedicada das suas companheiras:

— Até aqui, irmã Aca, tive forças para pelejar. Agora me prostra uma ferida cruel e tudo em torno se escurece, coberto de trevas. Foge e leva a Turno estas últimas recomendações. Digo-lhe que me substitua na peleja e afaste os troianos da cidade. E agora, adeus!

Ao dizer estas últimas palavras, amoleceu-lhe o corpo e caiu da sela, morta, soltando as rédeas. Um clamor imenso encheu o campo de batalha, enquanto avançavam as fileiras cerradas das tropas dos troianos e dos tirrenos e os esquadrões árcades de Evandro.

Mas a ninfa Ópis, enviada por Diana, viu das elevadas nuvens a morte de Camila e, gemendo, exclamou:

— Ai, donzela, que o teu castigo foi demasiadamente cruel por teres batalhado os dardanios! De nada te serviu teres honrado Diana durante anos, recusando matrimónio, percorrendo as nossas florestas com o carcás ao ombro. Não quer a tua rainha que sofras uma morte vergonhosa e que chegues ao Aqueronte sem estares vingada. Quem cometeu tal cume, pagará com merecida morte.





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