Eneida - Cap. 12: O Combate Final Pág. 216 / 235

(continuou)

— Que loucura é esta que me faz variar a vontade? Se depois da tua morte no combate me irei aliar aos troianos, porque não pomos termo a esta disputa, ainda quando estás com vida? Que dirão os rótulos, comigo aparentados, que dirá o resto da Itália se eu — que a fortuna desminta as minhas palavras — estiver a entregar à morte o pretendente da minha filha? Considera bem, pois, as vicissitudes da guerra. Compadece-te de teu velho pai.

Irritadíssimo de ter de ouvir aquele apelo, Turno replicou:

— Deixa por minha conta, ó tu, o mais bondoso dos monarcas, esse cuidado que sentes por mim e permite-me alcançar a glória a troco da vida. Eu também, caro rei, sei vibrar um dardo como Eneias e a minha espada também corta os ares e fere a carne. Juno tomará especiais cuidados para que sua mãe, Vénus, não o esconda numa nuvem, afastando-o da batalha como o fez quando estava quase a sucumbir sob uma lança grega.

Também a rainha Amata lhe fazia comoventes apelos:

—Turno, por estas lágrimas que vês rolares dos meus olhos, por qualquer coisa pela qual tens deferência e pela amizade que me tens, abandona o teu desejo de luta. Tu és agora a minha única esperança, meu único consolo na velhice infeliz. A glória e o poder do reino latino dependem de ri. És a estaca que escora a casa vacilante. Só esta coisa te rogo. Desiste de combater com o troiano. Seja qual for o fim que tiveres, Turno, não ficarei neste mundo odioso sem ti, nem, cativa, verei Eneias como genro.

Lavinia ouvia as palavras da mãe com as faces regadas de lágrimas, enquanto um vivo rubor lhe cobria as maças do rosto. Era como se alguém tivesse tingido o marfim da Índia com a púrpura cor de sangue, ou quando os brancos lírios se avermelham misturados as rubras rosas num ramalhete. O príncipe, com os olhos turvados de amor, encarava-a finamente.





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