Eneida - Cap. 12: O Combate Final Pág. 223 / 235

Sem lhe dar tempo pata se levantar, Messapo avançou rápido e prostrou-o com uma lançada certeira dizendo:

— Morre aqui mesmo, que outra vítima melhor não poderiam querer os deuses.

Acorreram outros ítalos e despojaram o corpo, ainda quente, das suas armas e insígnias reais. No meio da confusão e do caos, o piedoso Eneias estendia a mão direita desarmada e, com a cabeça descoberta, chamava todos à razão em altos gritos:

— Para onde ides nessa fúria? Que repentina discórdia é essa que se alevanta, depois de firmados os acordos? Oh! Reprimi a vossa cólera! A mim, só a mim cabe o direito de lutar. Deixai-me pelejar sozinho e tirai o peso do coração.

No meio da algazarra infernal de Marte, uma seta ligeira e veloz atingiu o herói. Não se sabe até hoje quem a vibrou. Quem foi? Teria algum deus resolvido combater entre os rútulos? A glória desse feito ilustre ficou ignorada e ninguém se gabou de ter ferido Eneias.

Turno, vendo Eneias ser retirado do combate, enquanto se perturbavam os animas troianos, inflamou-se de repentina esperança. Pediu que trouxessem o seu carro e os seus cavalos e, de um salto, assumiu pessoalmente as rédeas. Avançando qual furacão pelo campo de batalha, ceifava as fileiras inimigas, manejando a espada, a lança e as setas com igual perícia, enquanto os cavalos e as rodas abriam claros entre os guerreiros, atropelando-os e esmagando-os. Incitando os animais suados com gritos e chicotadas, fazia-os passar qual rolo compressor sobre mortos e vivos, com os cascos tintos de vermelho sangue. Pareciam os vagalhões do Egeu profundo que vão sendo impelidos por um vendaval do norte. Assim eram levados de roldão os batalhões troianos diante do príncipe rótulo.

Eneias fora conduzido pelos companheiros para longe do fragor da batalha. Quebrada a haste da seta, Acates, Ascânio e Mnesteu tentaram tirar o farpão, mas este resistia, tão profundo estava cravado.





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