Eneida - Cap. 12: O Combate Final Pág. 224 / 235

Eneias, irritado e preocupado com a sorte dos seus guerreiros, pediu-lhes que abrissem a ferida com uma ponta afiada e lhe permitissem voltar ao combate. Apresentou-se então ao herói valoroso, que estava de pé, apoiado na sua comprida lança, Iápis, filho de Iaso, e sacerdote de Apolo, a quem o deus, por muito amar, ensinara pessoalmente as artes médicas, os vaticínios, a música com a citara, bem como curar as velozes setas. O velho lápis sentou-se ao lado do guerreiro e banhou o seu ferimento com água do rio, que retirava de uma cuia onde dissolvera o pó de várias ervas. Com uma pinça tentou arrancar o farpão malévolo, mas a operação foi inútil. Não o ajudavam naquele momento as artes de Apolo. O horror ia tomando conta de todos, à medida em que se aproximava o fragor da batalha. O ar começava a encher-se de poeira e as primeiras setas e dardos principiavam a cair sobre o acampamento. Os cavaleiros já se aproximavam e tudo parecia perdido.

Então Vénus, penalizada pela cruel dor infligida ao filho, foi como mãe carinhosa ao monte Ida, na ilha de Creta, onde colheu o dictamno, caule felpudo de grandes folhas e flores avermelhadas, planta que as cabras, quando feridas, comem. Envolta em invisível nuvem, a deusa aproximou-se de Iápis e esmigalhou alguns botões da planta benfazeja dentro da água com que o médico tentava curar o rei, adicionando ao líquido miraculosa ambrósia e panaceia, que tudo cura. Mal uma gota do preparado divino caíra sobre a ferida, a hemorragia cessou e a dor aliviou. Puxando suavemente a ponta do ferro assassino, Iápis conseguiu retirá-lo com facilidade. De imediato, Eneias sentiu voltarem-lhe as forças e levantou-se. Bradou então o médico:

— Tragam-lhe as armas, que não foram minhas as artes que o curaram. Há um deus a agir por aqui.

Eneias tornou a vestir a sua armadura, empunhou a espada e a lança e, depois de abraçar Ascânio, despedindo-se, partiu rápido para a batalha, seguido de perto por Anteu e Mnesteu e todo um cerrado batalhão. Então, a planície turvou-se com a poeira levantada e a terra tremia, abalada, sob os pés da falange troiana, que avançava.





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