Eneida - Cap. 12: O Combate Final Pág. 230 / 235

E já se aproximava Eneias na corrida, lançando o seu dardo com estupenda força. Turno também arremessara o seu, mas ambos erraram o alvo. Chocaram-se os dois gigantes de valentia, com arrojo e destreza no combate das armas. Soavam e retiniam os escudos de bronze e coruscavam as espadas cintilantes nos golpes velozes. A terra estremecia. Como na planície ou no monte elevado, dois touros, com as frontes voltadas, investem em luta terrível, enquanto os pastares assustados se retiram e todo o gado se conserva mudo de medo, aguardando aquele que dominará o bosque e a quem seguirá o rebanho, assim também se empenharam Eneias e Turno na contenda que atingia o auge da violência, batendo-se os escudos e capacetes.

No alto Olimpo, Júpiter assistia a tudo e conservava os dois pratos da balança em perfeito equilíbrio. Nos pratos estavam os seus destinos e só ele, omnisciente, sabia quem deveria morrer e quem deveria vencer. Aproveitando-se de um momento julgado oportuno, Turno elevou o seu enorme corpo na ponta dos pés e, levantando ao máximo a poderosa espada, fê-la cair sobre o capacete do troiano. Tudo como que de súbito, estacou, as vozes presas na garganta, os corações suspensos, os olhos parados, pois creram — latinos, rútulos, árcades, etruscos e troianos — ter chegado o fim. Mas a espada quebrou-se junto aos copos e Turno, vendo-se ali, a destra a segurar a arma inútil, o inimigo preparando o golpe final, disparou em desabafada fuga, mais veloz que o vento. Dizem que, na precipitação de recomeçar o combate, depois da quebra do acordo, o rótulo subira ao carro empunhando uma outra espada — a do cocheiro Metisco — que não a bem testada e temperada lamina poterna. Aquela lhe servira enquanto encontrara pela frente inimigos timoratos e fracos de força e couraça. No entanto, contra a armadura, o escudo e o capacete forjados pelos Ciclopes do Etna a mandado de Vulcano, a lamina saltou em estilhaços qual frágil vidro, ficando os fragmentos na areia dourada.

Prosseguia Turno na correria, fazendo círculos desordenados. Eneias perseguia-o, mas o ferimento recente e as forças esgotadas com a perda de sangue impediam-no de correr muito. O fugitivo esquivava-se agilmente do troiano, entrando e saindo nas fileiras formadas, correndo atrás das touceiras e charcos, ao mesmo tempo que gritava aos seus companheiros que lhe trouxessem a própria espada.





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