Eneida - Cap. 2: Partem os Troianos Pág. 30 / 235

Lá fundaram as suas cidades os locros de Naricia, o rei Idomeneu, que abandonou Creta, e também lá está a famosa cidade de Filoctetes, chefe de Melibeu e a pequena Petilia, forte nos seus muros altos. De tudo isso rnantém-te afastado, Eneias, e cruza o mar Jónio na direcção sul. Veras então o estreito de Peloro. Em tempos passados, conta a lenda que aquelas massas de terra eram uma só e que num dia de grande catástrofe a terra estremeceu, separando-as e o mar avançou com impero pelo sulco aberto, afias tando as costas da Hespéria e da Sidlia. Ao veres a entrada daquele estreite canal afasta-te para o mar largo, para longe das terras e das águas à tu, direita. Mantém o rumo à esquerda, navegando para o sul ao longo d, costa da Sidlia até o ponto mais meridional da ilha, rodeia-o e faz-te a norte, directo ao teu objectivo. Se tens amor à vida, não te aventures pele Peloro, pois lá te espreitam grandes perigos. Naquele lugar habitam duas divindades monstruosas. A direita, debaixo do penhasco mais alto, mor: Cila numa caverna submersa. Essa terrível deusa mantém em torno de si amarrados, um bando de mastins uivantes e verdes como o mar. A part, superior do seu corpo é de mulher. Para baixo é um horroroso monstro marinho, com ventre de lobo e muitas caudas de delfim, que chicoteiam e se agitam sem cessar. Não te atrevas uma vez sequer a olhar o monstro pois está sempre à espreita, pronto a arrebatar com as suas vorazes mandíbulas os homens do convés. A esquerda, onde uma penedia lisa se alç do oceano, mora Caríbdis. Três vezes por dia, aspira ela para o seu vasta ventre as enormes ondas de água salgada, fazendo girar o mar em torn, em remoinho gigantesco. Qualquer navio que lá se aventurar, afundar-se para sempre. Depois de um certo tempo, o monstro volta a cuspir a águ para os ares, como se quisesse molhar os astros. Quando finalmente, depoi de contornares a ponta meridional da Sicilia, te estiveres a aproximar da costas ocidentais da Itália, avistarás a cidade de Cumas, perto da qual esta os lagos do Averno. As suas margens são cobertas de bosques escuros onde as árvores murmuram misteriosamente. Lá irás consultar uma pro fetisa inspirada que trabalha debaixo de um rochedo côncavo, predizendo os destinos e escrevendo nomes e letras nas folhas. Essa profetisa dispõe as folhas de modo regular e ordenado no interior da sua caverna, que fica próxima de uma colina onde reluz o templo de Apolo. Dizem que o deu lhe confia muitos dos seus segredos. As folhas permanecem imóveis e na saem de seus lugares. Porém, se um vento brando, aberta a porta, as agite mistura, a sibila não se preocupa com o seu destino e nem procura, sequei reuni-las.





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