Eneida - Cap. 2: Partem os Troianos Pág. 33 / 235

Partiram por fim, avançando pelo mar junto aos campos vizinhos de Ceraúnia, procurando o caminho mais curto para a Itália. Chegou a noite, entretanto, e acharam um bom local para descansar do esforço daquele dia e ali mesmo, na praia, se entregaram ao reparador sono. Não ia a noite avançada quando Palinuro, o piloto, se levantou do leito e se pôs a observar os astros e a escutar os ventos. Lá estavam a estrela Arturo, as Híades chuvosas, os dois Trióes e Orion, no seu fulgor dourado. Deu então um sinal vibrante. Era a ordem para levantar o acampamento e partir, aproveitando o mar calmo. Já então nascia a aurora, afugentando as estrelas, e logo chegaram à costa baixa da Itália.

Acates foi o primeiro a vê-la e a anunciá-la. Eneias e os seus companheiros saudaram-na, de imediato, com altos bradas. Anquises, revestindo de touros uma grande taça de vinho, pôs-se de pé na popa e invocou os deuses derramando o líquido no mar:

— Ó deuses, senhores do mar, da terra e das tempestades, dai-nos uma viagem fácil e fazei os ventos soprarem propícios.

A brisa chegou mais forte e logo avistaram o porto e, no alto, o templo de Minerva. Recolheram as velas, guarneceram os remos e aproaram os barcos para o litoral. O porto era curvo e nos rochedos fronteiras estrondeava o mar em branca espuma. A entrada era flanqueado por duas linhas de recifes, uma de cada lado, meio ocultos entre a espuma e as ondas. O templo de Minerva ficava situado numa colina alta, branco e brilhante contra o fundo escuro das árvores. Quando se aproximaram mais um pouco, encobriram-se da vista as altas penedias. Eneias divisou um primeiro presságio. Eram quatro cavalos, brancos como a neve, que pastavam na relva. Anquises exclamou:

— Anuncias guerra, ó terra hospitaleira, pois para a guerra se armam os cavalos. Contudo, às vezes esses mesmos corcéis são atrelados aos carros e recebem freios nas bocas. São, nesse caso, augúrio de paz.





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