Eneida - Cap. 3: Eneias Chega a Cartago Pág. 39 / 235

Como pôde Minerva incendiar a esquadra dos gregos e fazê-los perecer afogados, só porque um homem, Ájax, filho de Oileu, a ofendeu? Como lhe foi permitido encher o céu de coriscos, dispersar os navios, revolver as ondas com vendavais e arrebatar num turbilhão o seu ofensor, espetando-o num rochedo pontiagudo, a exalar chamas do peito varado? E eu, a rainha do Céu, esposa de Júpiter, a mim não me permitem as Parcas destruir os Emanescentes de um povo a quem há tantos anos guerreio! Não! Eu, Juno, a rainha dos deuses, não me afastarei dos meus desígnios! E se tal acontecer, quem me adorará no futuro ou depositará oferendas ao pé dos meus altares?» Revolvendo na mente pensamentos de raiva e de despeito, dirigiu-se Juno a Eólias, lugar onde o rei Éolo refreia os ventos e as tempestades dentro de uma caverna. Ali contidos, eles, indignados, fremem e murmuram no coração da montanha. Éolo, empunhando um ceptro e sentado num trono elevado, acalma-lhes os animas. Se não o fizesse, decerto sairiam em louca fúria, varrendo os ares, os mares, as terras e o próprio céu. E foi por temer isso que Júpiter os aprisionou naquele abismo, debaixo de montanhas, dando-lhes um rei que os contivesse em rédea curta ou os soltasse em fúria tempestuosa, conforme Ihe aprouvesse. L Chega então Juno e assim Ihe fala: — Ó Éolo, que recebeste do pai omnipotente o poder de amansar e encapelar as ondas com o vento, um povo meu inimigo cruza agora o mar Tirreno, na direcção da Itália e em busca do exilio. Imprime força aos ventos, alaga as popas, dispersa a esquadra e atira os homens ao mar. Tenho em meu poder catorze ninfas de beleza estonteante, sendo que Deiopéia é a mais linda de todas elas. Esta eu te darei em casamento e com ela muitos filhos terás, se aquiesceres ao meu pedido.

Ao que Ihe respondeu o rei dos ventos:

— Ó rainha, teus desejos são ordens para mim, pois não é por tua graça que aqui estou, soberano deste reino e possuidor deste ceptro? É pela tua vontade que desfruto da amizade de Júpiter e participo dos banquetes do Olimpo e é por ela que comando os ventos e as tempestades.

Assim falando, bateu com o ceptro na rocha oca a seu lado e... O Deuses do Olimpo, quem poderá descrever o barulho que se seguiu! Os ventos, ansiosos de liberdade depois de longa reclusão, lançaram-se, em imenso turbilhão, pela porta que lhes fora aberta.





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