Eneida - Cap. 3: Eneias Chega a Cartago Pág. 44 / 235

Rómulo continuará a linha dinástica e chamará romanos aos seus descendentes. Para estes não designei um fim do império, nem no tempo nem no espaço, porquanto serão eternamente reis da terra. Juno, que amedrontada anda fustigando os mares e a terra contra o teu filho, mudará de ideia a respeito dos romanos e ajudar-me-á a apoiá-los. Os dessa nação de toga serão senhores do mundo. As terras gregas, Micenas, Ftia e Argos gemerão sob o seu jugo. Da descendência troiana nascerá um César, cujo império só a oceano limitará e cuja glória subirá aos astros. Seu nome será Júlio, derivado do grande Iulo, e tu, tranquila, o receberás um dia no céu, carregado com os despojos do Oriente. Estarão então terminadas as guerras bárbaras e as portas da batalha serão cerradas com ferro e assim mantidas com trancas bem ajustadas. O furor ímpio, com as suas armas sangrentas afastadas e as mãos atadas às costas com cem nós de bronze, bramirá impotente com a boca ensanguentada e nojenta. E tudo isso eu o proclamo solenemente, e seja feita a minha vontade.

Dito isto, Júpiter enviou Mercúrio a Cartago para que se abrissem as terras e as fortalezas da cidade aos troianos, em franca hospitalidade, e para que Dido, ignorando o que o Destino havia previsto, não os expulsasse. Rápido nas suas asas, voou Mercúrio ate as praias da Líbia e até a cidade, onde entregou a mensagem divina à rainha. Ela e o seu povo abandonaram imediatamente as intenções cruéis. No coração de Dido surgiram animas benévolos e amáveis para com os estranhos.

No entanto, Eneias, que passara a noite a meditar sobre várias coisas, resolveu sair e explorar novos lugares, assim que surgiu a aurora. Desejava saber que terras eram aquelas para onde os levara o vento, e que seres as habitavam — se homens ou feras — pois não via sinais de civilização. Deixando os navios escondidos debaixo de um rochedo que se projecta sobre as águas, num lugar cercado de árvores, partiu com Acates, levando cada um a sua lança de ferro. Quando seguiam por um trilho na floresta, surgiu-lhes à frente Vénus, disfarçada sob a forma de uma linda donzela, carregando armas. Eneias não sabia se a moça era espartana ou grega, como Harpálice, a rainha guerreira da Trácia.





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