Eneida - Cap. 3: Eneias Chega a Cartago Pág. 50 / 235

O troiano reparou na grande beleza da soberana que andava com graça tal, que nenhuma outra mulher mortal a poderia suplantar. Assim como Diana, que com o seu arco e a sua aliava, a cabeça loura acima das outras densas, segue à frente do bando de donzelas dançarinas—mil ninfas da floresta — pelas margens floridas do Eurota, aquele rio da distante Grécia, ou percorre as trilhas das montanhas de Delfos, levando alegria ao peito de Latona, sua mãe, assim também a rainha Dido passava entre a sua gente concitando-a a trabalhar.

Ao chegar ao templo, sentou-se num lindo trono sob a abóbada central. Desse lugar promulgava leis, emitia decretos e dava ordens ao povo cartaginês para a construção da cidade, dividindo sábia e equitativamente as tarefas entre todos.

De repente, Eneias viu chegar, no meio de grande acompanhamento e barulho, Anteia, Sergesto e o forte Cloanto com muitos outros troianos que o tufão dispersara no mar e impelira para outras pragas. Eneias, estupefacto, e Acates, cheio de alegria e de medo, ali quedavam, impacientes por apertar as mãos dos companheiros, numa confusão de sentimentos. Decidiram permanecer escondidos na nuvem que Vénus lhes dera e observar a sorte dos outros, em que costa haviam sido arrojados e como se encontravam ah agora.

Logo que entraram e lhes foi dada permissão para falar em frente da rainha, Ilioneu, o mais velho de todos, adiantou-se e disse:

— Ó rainha, a quem Júpiter permitiu construir uma cidade e domar os povos bárbaros, nós, troianos infelizes, levados pelos ventos por todos os mares, rogamos-te que não mandes incendiar os nossos navios e que nos concedas a hospitalidade que Júpiter deseja que seja concedido a todos os estrangeiros em infortúnio. Não estamos aqui para a guerra ou para saquear os teus tesouros. A nós, vencidos, não sobra animo, nem falta orgulho para tal. Há um lugar que os gregos chamam Hespéria, terra antiga e famosa pela força das armas e fertilidade do solo, outrora habitada pelos enótrios. Agora chamam-na de Itália, do nome do seu chefe.





Os capítulos deste livro