Eneida - Cap. 3: Eneias Chega a Cartago Pág. 55 / 235

Quando Cupido e Acates entraram no grande salão do palácio onde a rainha já estava sentada, entre os seus convidados, à mesa do banquete, lá também, próximos, Eneias e os seus companheiros, com muitos jovens cartagineses, se reclinavam nos tapetes púrpura. Os servos derramaram água de jarros de prata sobre as mãos dos convidados, trouxeram malhas e serviram pão de trigo. Cinquenta criadas depuseram então, sobre a mesa, uma longa série de iguarias. A seu cargo estavam também os fogos que ardiam em honra dos deuses. Cem raparigas e cem rapazes serviam a comida e o vinho. Todos estavam alegres, rindo e gracejando, enquanto tomavam os seus lugares à mesa.

À vista dos recém-chegados, correu um frémito de admiração entre os convidados, maravilhados com o menino e com os presentes de Eneias. Dido era a mais inflamada de todos. Olhava-os deliciada e os seus olhos brilhavam de alegria. Cupido dirigiu-se primeiro a Eneias. Abraçou e beijou o falso pai, que nada percebeu. Caminhou, depois, para a rainha, que o tomou nos braços, acariciando-o como o faria uma mãe, nada sabendo das desgraças que lhe adviriam daquele gesto. Suave e paulatinamente, o deus foi-lhe infiltrando no coração o amor por Eneias, apagando da sua mente a recordação do marido Siqueu e tentando despertar aquele coração há muito desacostumado de amar.

Terminado o banquete, retiraram-se os restos dos alimentos e trouxeram os vinhos generosos. Caia a noite e as conversas enchiam o salão, mas a escuridão fugia diante dos lustres acesos que pendiam do tecto dourado e das tochas nas paredes. A rainha pediu e encheu de vinho uma taça, pesada pelas muitas pedras preciosas que a ornavam e pelo sólido ouro de que era feita. Ergueu-a nas duas mãos, enquanto o silêncio se fazia pelas salas:

— Ó Júpiter, que promulgasses as leis da hospitalidade, concedei hoje felicidade aos tírios e aos troianos! Que os nossos descendentes se lembrem deste dia. Baco, o deus da alegria, esteja presente e também a boa Juno. Quanto a vós, cartagineses, aplaudi e celebrai essa reunião.





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