Eneida - Cap. 5: Os Jogos Fúnebres Pág. 83 / 235

Já se aproximavam agora do rochedo que marcava o meio da regata. Gias, à frente, gritou então para Manete, piloto do seu barco.

— Porque descambas tanto para a direita? Estás fora do rumo. Deixa-a aproximar-se do rochedo!

Bradou de novo para o piloto, vendo que a rival Cila já tomara o caminho mais curto, interpondo-se entre o seu navio e a rocha. A Cila passou a rasar o perigoso escolho e logo alcançou as águas seguras à frente de todas. Enraivecido, Gias avançou direito ao seu piloto. Com um rápido golpe de braço, arrancou-o do seu posto, atirando-o às águas, sem consideraçao pela sua dignidade nem pela segurança do navio, e ele mesmo ocupou o leme. Exortando os remadores a plenos pulmões, virou a embarcação na direcção dos rochedos. Enquanto isso, o pesado Manete, já velho, saia encharcado da água e, com dificuldade, trepara para uma rocha, pondo-se a seco. A assistência inteira riu com gosto da sua figura patética, vomitando a água salgada que engolira.

Alegraram-se os dois barcos mais atrás, com a esperança de vencer Gias, que perdera terreno com a manobra. Sergesto seguia à frente na sua Centauro, com quase um barco de diferença em relação à Baleia. Mnesteu percorria as fileiras de remadores admoestando-os nestes termos:

— Ó amigos de Heitor, que escolhi como companheiros, quando Tróia se aproximava do fim, esforçai-vos nesses remos. Mostrai agora aquela força e coragem que usastes nas terras da Getúlia e nas águas do mar Jónio. Não vos peço que vençais a corrida e que conquisteis o primeiro prémio, mas acho que ainda poderemos ultrapassar Gias. Livremo-nos da vergonha de ser os últimos a chegar à costa!





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