Eneida - Cap. 5: Os Jogos Fúnebres Pág. 96 / 235

Lançou o capacete ao chão, mostrando o rosto. Chegavam então Eneias e o resto dos troianos. Nesse interim, as mulheres apavoradas tinham-se disperso em fuga por toda a costa, procurando refúgio nos bosques, nas grutas e nas moitas. Tristes, enchia-se-lhes agora o coração de pesar e desolação pela acção cometida, a alma esvaziada do ódio que lhes inculcara a pérfida Juno. Mas esses sentimentos não faziam baixar as chamas do incêndio ateado, que creditavam alto e mais alto. Sob a madeira húmida ardia a estopa, vomitando uma fumarada negra e o fogo lento ia comendo as quilhas, o cavername. Foram vãos a grande quantidade de água e os esforços dos filhos de Dárdano para extinguir a nefanda obra.

Desesperado, Eneias rasgava as vestes e implorava o auxilio dos deuses, estendendo as mãos para os céus:

— Ó Júpiter omnipotente, se ainda não nos odeias até o fundo da tua alma, se ainda te sobram restos de piedade e compaixão pelos esforços humanos, concede agora, ó pai, que a nossa pobre armada escape das chamas, e salva da destruição os bens troianos! Ou então, Júpiter, nada mereço e mata-me neste exacto momento com o teu raio mortífero e enterra-me nesta praia com a tua mão direita, pois desgraça nenhuma maior me falta!

Apenas tinha pronunciado essas palavras e uma negra tempestade, fora de toda a ordem e previsão, formou-se sobre as suas cabeças e precipitou-se em aguaceiros copiosos. As elevações e os campos tremiam com o trovão. O céu escuro desmanchava-se em torrentes liquidas. As popas enchiam-se e fervia e chiava o madeirame rubro ainda. O fogo foi completamente extinto e somente quatro navios se perderam.

Abalado com o funesto acontecimento, Eneias passeava inquieto de lá para cá, pensamentos confusos, não conseguindo decidir se seguia para Itália ou permanecia ali, esquecendo os augúrios divinos.





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