O infante, que até então estivera calado, ouvindo os seus optimates, pôs-se em pé e, com as faces abrasadas, apertou o punho da espada e bradou:
– A paz!? Oh, isso nunca!
– A paz – insistiu o Lidador com firmeza – eu a pedi mil vezes na cúria de vossa mãe. Que o conde vos ceda a herança de meu senhor D. Henrique; que D. Teresa ceda a seu nobre filho o senhorio desta terra de cavaleiros!... Que um mensageiro vá em nome do infante e dos filhos-d’algo de Portugal propor estas condições, antes de as oferecermos nas pontas das lanças. Ainda uma vez o requeiro, em que pese aos que ousarem acusar-me de desleal, porque guardo o esforço para o momento das obras, e desprezo o que se revela em feros e ameaças antes do combater.
O rico-homem olhou em roda com ar altivo. Alguns dos barões do conselho cravaram a vista no chão.
– Mas lembrai-vos – atalhou Afonso Henriques – de que a memória de muitos anos de opróbrio só pode derriscá-la o sangue correndo abundante em campo de lide.
– E vós, senhor, não vos esqueçais de que também nessa primeira batalha o sangue que há-de correr será dos vassalos e dos peões, cujo príncipe sois: o sangue de cristãos, e não de agarenos e ismaelitas.
O infante ficou por algum tempo mudo: depois fitou os olhos no seu velho aio, que lhe fez um leve sinal de assenso.
– Seja, pois, como pretendeis – disse ele por fim – ainda que tenho por certo será uma bem inútil mensagem. Ao menos meu primo el-rei de Leão, que tão contrário se nos mostra, saberá que procurei evitar a guerra.
– E quem há-de ser o mensageiro? – perguntou o arcebispo de Braga, D. Paio, que no gesto carrancudo dava sinais de estar mais longe do espírito do Evangelho que o duro e impetuoso Gonçalo Mendes.