O Bobo - Cap. 12: XII - A mensagem Pág. 118 / 191

A narração que fizera o Lidador convertera em certeza as desconfianças que o trovador concebera de alguém o haver conhecido na corte, apesar do seu disfarce. O coração palpitava-lhe ao lembrar-se da promessa que fizera a Dulce, e de que, ainda quando lhe restasse esperança de poder voltar a Guimarães sem cair nas mãos  do feroz conde de Trava, nenhuma podia ter de salvar a sua amante: a proposição do Lidador lhe reanimou, porém, as quase mortas esperanças. Adiantando-se, pois, disse:

– Se ao ilustre infante aprouver, serei eu quem vá a Guimarães com essa mensagem. Pouparei ao conde de Trava o trabalho de por mais tempo me procurar debalde.

– Bem dito, meu colaço! – bradou o infante. – É de esforçado cavaleiro ir afrontar o inimigo entre os seus homens de armas; mas não consinto que vos arrisqueis de novo à cólera dos estrangeiros. Outrem irá agora em vosso lugar.

O trovador aproximou-se então de Afonso Henriques e voltando- se para os prelados e barões:

– Depois de três anos de ausência – disse com visível agitação – voltei a Portugal para servir na paz ou defender na guerra o filho de meu senhor. Como o ceifeiro que abandonasse a seara quando as espigas se lhe ofereciam mais bastas e formosas, assim eu abandonei as pelejas da Terra Santa quando mais douradas esperanças me prometiam larga colheita de glória. Fi-lo por ser leal a meu preito e à fraternidade das armas. Dizei vós se o infante de Portugal me deve por isso algum prémio.

Afonso Henriques fez sinal de silêncio estendendo a mão para o senhor de Cresconhe, que ia talvez repreender seu primo desta intempestiva pretensão, e respondeu:

– Não precisais de requerer aos filhos dos bem-nascidos que julguem vossa demanda, como é foro de Espanha. Confesso o direito que tendes, e juro que a recompensa será qual vós a pedirdes.





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